Há 25 anos nascia, pela mão de um grupo de médicos patologistas, o IPATIMUP. Desdobrando as siglas, mesmo que aos mais leigos na matéria isso pouco acrescente, o “Instituto de Patologia e Imunologia Molecular da Universidade do Porto”. “Um instituto de investigação muito próximo do Hospital de São João e da Faculdade de Medicina mas ainda assim independente”, explica Sobrinho Simões, fundador e diretor da instituição.

Financiamento

Ser financiado por projetos internacionais e pela indústria é mais seguro e pode ter bom impacto social, mas desmotiva os cientistas. “As perguntas deixam de ser feitas por nós e passam a ser feitas pelas empresas”, explica o diretor.

Atualmente, conta com mais uma centena de pessoas vindas de seis ou sete faculdades diferentes e das mais variadas áreas, das ciências da saúde à biologia. Em curso, atualmente, estão 23 projetos. Um balanço positivo, um quarto de década depois, apesar das dificuldades de financiamento que Sobrinho Simões não consegue deixa de referir.

No período de quatro anos, o IPATIMUP perdeu 45% do financiamento estatal: se antes eram 1,2 milhões de euros a ajudar a pagar a conta de seis milhões anuais, em altura de bodas de prata são pouco mais de 900 mil euros.

“Assim passamos de um laboratório de investigação para um laboratório de análises”

Um corte “para lá do aceitável” e uma parcela que ainda por cima “chega tarde e más horas”. “Começamos a perder eficiência”, garante o investigador. Os projetos internacionais e a prestação de serviços de análise e diagnóstico têm sido o principal porto seguro da instituição, mas “desvirtua” a sua função. “Se continuarmos assim começamos a afastar-nos daquilo que é suposto fazermos: investigar. Passamos de um laboratório de investigação para um laboratório de análises”, diz.

Um desperdício tendo em conta a reputação que o IPATIMUP tem conseguido criar tanto no panorama nacional como no internacional. “Somos uma equipa de pequena-média dimensão mas com grande eficiência”, afirma Raquel Seruca, vice-presidente. “Temos uma média de publicação de 1,2 por investigador sénior. A maior parte delas, em revistas de topo da área”, assegura. “O problema é que não é atrás de um computador que se faz ciência” e “a área biomédica é muito cara”, sublinha. 23% da despesa total é em reagentes.

Há que “evitar cortes cegos”

Estado não se pode “desresponsabilizar”

Sobrinho Simões não está contra a intenção do Estado de desinvestir, mas acredita que este deve fazê-lo essencialmente “naquilo em que tem pouca ou nenhuma qualidade. É possível reduzir e melhorar as redes de hospitais, universidades e laboratórios, não podem é fazer cortes cegos, como o que tem acontecido. Cortaram-nos 45% em qualquer tipo de avaliação”, refere.

“Assustado” mas confiante na “força” do instituto para vencer as dificuldades, só gostava de saber “para onde foi o dinheiro” e lamenta a “fuga de cérebros”, cada vez mais evidente. “Há pouco tempo um colaborador foi para o Canadá, agora outro vai para a Austrália. Estamos a perder gente muito boa e não estamos a conseguir recrutar a miudagem que agora termina a faculdade. Não temos lata para estimular gente nova a vir trabalhar connosco sem termos a certeza que temos suporte para eles”.

O futuro do IPATIMUP passa agora pelo I3S, um “superinstituto” com origem num consórcio com o IBMC, o INEB e a Universidade do Porto (UP). Vai estar instalado no pólo da Asprela, num edifício com 14 mil metros quadrados, no qual Sobrinho Simões prevê já estarem a trabalhar “em meados de 2015”. “Entrar no I3S permite-nos continuar a fazer ciência”, acredita. Por isso, há que estabelecer objetivos (ver vídeo abaixo).