A FLUP abriu portas a uma discussão sem tabus, esta quinta-feira. Dezenas de estudantes aderiram ao debate, que teve como mote o reacordar do movimento feminista no século XXI.

Leonor Figueiredo, vice-presidente da Associação de Estudantes da Faculdade de Letras da Universidade do Porto (AEFLUP), introduziu os oradores – Carmo Pereira, do movimento Slutwalk, Tiago Braga, do grupo Panteras Rosa, e Tatiana Ribeiro, estudante da FLUP.

Partindo de questões como “Sou galdéria se visto uma saia curta e um decote? Sou galdéria se durmo com quem escolho dormir? Se ando pela rua sozinha com a roupa que me apetece vestir, estou a pedir para ser violada ou para ouvir comentários sexuais?”, a discussão aprofundou-se para temas atuais, como a problemática da desigualdade salarial entre homens e mulheres e a co-adoção por casais do mesmo sexo.

Slutwalk – Manifesto 2012

A Slutwalk não pretende falar por todas as mulheres, ou por todas as pessoas. As diferentes experiências de etnia, estatuto sócio-económico, cultura, religião, configuração corporal e de género, etc, não se prestam a isso. Mas, ainda assim, a experiência de se ser chamada galdéria, desavergonhada, puta, descarada, vadia, badalhoca ou fácil está bastante disseminada em Portugal, e faz parte de uma dinâmica mais abrangente de discriminação e opressão patriarcal.

O debate acabou por não acontecer entre os oradores, que partilhavam das mesmas opiniões, mas partiu da audiência, que interveio de forma entusiasta e relatou experiências. Enquanto Carmo Pereira se centrou na questão do direito ao espaço público e na importância de nos consciencializarmos uns aos outros, Tiago Braga enfatizou que “o inimigo do feminismo não é homem, mas sim a estrutura machista que está incutida na nossa sociedade”. Tatiana Ribeiro, por sua vez, deu voz aos estudantes, e particularmente às mulheres, que se sentem diariamente julgadas e reprimidas pela forma como se vestem ou comportam.

A audiência mostrou-se interessada em perceber a evolução do movimento feminista em Portugal, interpelando os oradores acerca das suas bases e princípios. No final, prevaleceu a ideia de que a sociedade ainda se recusa a debater em praça pública temas fraturantes, como os direitos da comunidade LGBT e a discriminação com base na aparência.

O ciclo debates da AEFLUP continua nos meses de abril e maio, com temas ainda a decidir. A entrada é livre para todos, mas com a garantia de que os preconceitos ficam cá fora.