Um corte de 3,5 metros vai ser feito na ilha onde, em 2011, 69 pessoas perderam a vida, assinalando o vazio que ficará sempre na história da Noruega. A secção cortada – terra e árvores – será usada na segunda parte do memorial, em Oslo, no local onde explodiu a bomba.

Foi este o projeto que venceu, por unanimidade, o concurso norueguês aberto para o efeito. “Como construiria um memorial adequado para um dos piores dias da história moderna de um país?” era a questão de partida.

Na sua visita a Utoya, Jonas Dahlberg apercebeu-se da diferença entre o edifício vazio que conservava a dor e as marcas do massacre e o exterior onde a natureza se renovara e encobria já os vestígios de um dia negro. Com o passar do tempo, quer na ilha quer em Oslo, a marca de 22 de julho ia acabar por desaparecer. “Assim como acontece com uma ferida aberta que é costurada para fechar e, eventualmente, se transforma numa cicatriz desvanecida”, lê-se na descrição da obra.

Um “lembrete subtil”

De acordo com o previsto para o memorial definitivo, no futuro, será impossível ver o edifício principal do Bairro do Governo sem “um lembrete subtil dos ataques motivados politica e ideologicamente a 22 de julho de 2011 e daqueles que foram perdidos”.

O memorial na ilha e o provisório em Oslo deverão estar concluídos para o quarto aniversário do massacre, em julho de 2015. Ainda não há datas marcadas para a conclusão do memorial definitivo no Bairro do Governo.

Esta observação acabou por ser a semente do conceito do memorial. Era preciso transpôr a ferida ainda aberta do edifício para a natureza. Para Jonas, o corte “reproduz a experiência física de tirar, refletindo a perda abrupta e permanente dos que morreram”.

Os visitantes poderão percorrer um caminho de madeira através da floresta, completando, em cinco ou dez minutos, o percurso contemplativo. No fim, o caminho flui num túnel que leva ao corte onde se encontrarão numa das “janelas” da parede de terra junto ao canal de água. Do outro lado do canal, estarão gravados, em pedra, os nomes de todas as vítimas mortais, de forma a poderem ser lidos claramente, mas não alcançados. “O corte é um reconhecimento do que é para sempre insubstituível”, acrescenta o autor.

Em Oslo haverá um memorial temporário e, futuramente, um definitivo. Ambos construídos com base na terra, pedra e árvores retirados da ilha. Ocupará uma zona movimentada da cidade, representando o peso do sucedido na vida dos noruegueses e trazendo simbolicamente o ambiente do acampamento de verão ao centro de Oslo. “Apesar de devermos parar para lembrar o que aconteceu, a vida tem de seguir”, acrescenta o artista na descrição da obra.