Neste fim-de-semana, o roteiro cultural do Porto concentrou-se na Rua Miguel Bombarda, onde foram apresentadas, ao público, 13 novas exposições. À volta da artéria principal espalham-se as restantes, três na Rua D. Manuel II e duas na do Rosário. O evento contou com boa disposição nas galerias e nas ruas, onde também se celebrou o Dia Mundial da Mulher.

Na artéria principal, Rua Miguel Bombarda

Quem vem de Cedofeita depara-se, em primeiro lugar, com a Galeria Trindade, espaço partilhado pelas artistas Sónia Aniceto e Catarina Garcia. Na entrada, Sónia Aniceto expõe “(In)tensão Têxtil“, em cujos quadros sobressai a conjugação harmoniosa de têxteis com a tinta. Ao descer as escadas, encontramos o mundo da música retratado na pintura e desenho de Catarina Garcia, intitulado “La musique”. Ambas as artistas estavam presentes no dia da inauguração.

Logo de seguida, num olhar mais atento, Paulo Ossião marca presença na Galeria Ap’arte, com “Mulher, cidade Porto“. A “Mulher” foi o foco do primeiro andar do espaço, onde o artista expõe os esboços das esculturas em forma de quadro e já alguns exemplos escultóricos finalizados. Nestes trabalhos, Paulo Ossião opta por não retratar o rosto da mulher.

A visita estende-se ao andar inferior para uma exposição coletiva. A sala reúne outras pinturas de Paulo Ossião, desta vez com o tema “Cidade Porto”, fortemente marcado pelo azul. Aqui, são retratados lugares emblemáticos da cidade Invicta, desde a Avenida dos Aliados até aos Clérigos. Para Diamantino Sousa, um dos visitantes da Galeria, as pinturas de Ossião são repletas de “modernismo, dentro da realidade”. “São perspetivas da cidade do Porto inovadoras”, explica.

A beleza da cidade e a sua representação ligeiramente abstrata não deixou os visitantes indiferentes, que não esconderam a intenção de adquirir as pinturas. Do azul transitamos para um mundo de cor, pelos olhos de diversos artistas, tais como Ana Medeiros, Silva Lima, Nuno Santiago, Noronha da Costa, entre outros.

Já do outro lado da rua, a Gallery Hostel quase passa despercebida por não se tratar propriamente de uma galeria. Trata-se de uma forma criativa de promover o hostel e o artista – Nucha Franco, com “Evasões Verde e Azul“. O ambiente é jovem e vibrante e cada recanto do espaço é aproveitado para a exposição das pinturas.

Mais à frente, “Usar o tempo” expressa a personalidade da galeria e o seu interior. A amplitude do espaço é tal que permite atulhar as paredes e o chão de pinturas e antiguidades de mais variadas épocas e artistas. Mesmo assim, o caráter acolhedor da galeria não se limita aos mais velhos: são muitos os rostos jovens espalhados pelo espaço. A funcionária Daniela Pereira não esconde a importância do fenómeno Bombarda: “É muito bom, porque dinamiza o Porto – não só esta zona mas também toda a cidade – e projeta o nosso nome por aí fora”.

Outro ponto de paragem obrigatória é a Galeria Serpente, com “Pinturas Intermitentes“, de Rita Melo. O trabalho da artista alia a componente simbólica ao ser-humano e paisagens naturais, com o intuito de despertar um novo olhar perante a vida. Susana Camelo acompanha o trabalho de Rita Melo e o que mais aprecia é “a forma como [a artista] retrata a realidade misturada com pop art“. A seu ver, as inaugurações de Miguel Bombarda são “uma iniciativa muito positiva”. “É uma forma de toda a gente colaborar e ver arte de uma maneira agradável, sem se pensar ‘Ei, um programa cultural, que chatice'”, realça.

Mesmo ao lado, encontra-se a Galeria Presença, que se diferencia das restantes pela iniciativa “Prints on books“, que dá aos livros uma nova capa. Para além disso, a organização do espaço compreende três áreas completamente distintas, com destaque para o trabalho fotográfico de Paulo Catrica.

Na lista de artistas inaugurados neste fim-de-semana constam ainda os nomes de David Penela, com “Água pela barba”, Mariana Gomes, com “Breviário”, e Isabel Ribeiro, com “Fracciente”. As galerias Múrias Centeno e Símbolo acolhem “Group Show” e “António Carmo, Diálogos e Memórias”, respetivamente. A Vantag oferece ao público “the specials, arte portuguesa dos anos 80” e espaços como Por Amor à Arte Galeria, REM Espaço Arte e Galeria João Lagoa, outras exposições coletivas.

Entretanto, na Rua do Rosário

“À primeira vista, parecem flores brancas ou o lado espiritual de quem espreita. Flores espirituais que espreitam, como se elas próprias tivessem rosto e pudessem ver”. Eis como se apresenta a mostra “Lavor“, de José Plácido, situada na Rua do Rosário. A escuridão das paredes faz sobressair as esculturas. Ao mesmo tempo, a luz incide sobre as peças de forma a criar as respetivas sombras. Esta estratégia repete-se no piso inferior para prestar homenagem à mulher em “Les Femmes“. Ainda na rua do Rosário, é possivel visitar a instalação “LARANJALIMA”, na Galeria Artes em Partes.

Fim do roteiro cultural, na rua D. Manuel II

Na rua paralela, D. Manuel II, estreiam as exposições “Sinergia”, de Hazul, P.M.P, de Cristina Lamas e “Vestígios”, de Alexandre Bastos.

Guilherme Figueiredo integra o núcleo fundador das galerias de Miguel Bombarda e explica que a ideia de “juntar um conjunto de galerias” não foi para gerar “concorrência”, pelo contrário, “fomentar o espaço”, “envolver as pessoas e fazê-las apreciar, discutir, conversar”. “Só o ver já é um meio caminho para essa comunhão com a arte que é fundamental nas sociedades”, afirma e acredita que o turismo também sai beneficiado.

As “Inaugurações Simultâneas de Miguel Bombarda” já são uma tradição na cidade do Porto em que se celebra, em tom de festa, a Cultura e a modernidade. Com datas previstas para 3 de maio, 21 de junho, 20 de setembro e 8 de novembro, as próximas inaugurações simultâneas prometem juntar a arte contemporânea à animação.