A CV-DNA, uma empresa portuguesa de certificação de currículos, conduziu um estudo com os responsáveis pelo recrutamento em cerca de 40 empresas, um terço das quais são multinacionais presentes em Portugal. Resultado: 46% dos inquiridos dizem que os currículos que recebem contêm erros ortográficos. “[Nesse aspeto] as pessoas conseguem ser bastante criativas”: “Há de tudo. Nada que um corretor ortográfico não resolvesse”, diz José Quezada, diretor-geral da CV-DNA.

A fotografia é parte importante do currículo e 75% dos recrutadores admitem que os currículos que recebem contêm fotografias pouco profissionais, como, por exemplo, tiradas em casamentos. “A pessoa estava muito maquilhada e muito produzida, mas claramente não tem um aspeto profissional ou sequer natural”, justifica. Fotografias tiradas de óculos de sol, ou mesmo na praia, também são comuns: “Às vezes aparecem-nos currículos em que as raparigas se fotografam de biquíni e cortam um bocado da fotografia. De qualquer forma não deixa de se ver que foi tirada num contexto muito pouco profissional”, explica.

É de assinalar ainda que, segundo o estudo, é mais frequente os currículos terem informações a mais (82%) do que informações a menos. Jorge Quezada explica que, por exemplo, a listagem de todas as disciplinas que frequentou na Universidade ou anexos que sobrecarreguem os e-mails são informações a mais. Aliás, para este, o essencial é incluir informações que sejam relevantes para a função a que se candidata. Seja a mais ou seja a menos, a informação dos currículos vem, segundo o estudo, em 72% dos casos, desorganizada.

Há outro caminho para encontrar emprego

A verdade é que ainda é possível destacar-se na procura de emprego. Uma equipa de jovens que “definitivamente não quer emigrar” criou uma empresa há menos de um mês que pretende explorar a necessidade de querer um currículo diferente dos outros.

Hugo Alexandre Trindade, um dos fundadores da Otherwai, acredita que o formato Europass está completamente ultrapassado. Hugo admite que tal como não somos todos iguais, não existe um formato ideal que se aplique a todos. “Aquilo que diverge e que, de alguma forma, distingue os modelos que oferecemos são os conhecimentos implícitos: o que distingue cada pessoa da outra pessoa, aquilo em que cada pessoa é realmente boa e às vezes nem sabe”.

Os conhecimentos explícitos, segundo este, são aqueles que todos sabemos: as escolas que frequentamos ou os cursos que tiramos. Hugo admite que é essencial estes estarem presentes nos currículos, mas acredita que são os conhecimentos implícitos que nos distinguem e nos farão chegar ao emprego que sonhamos.

Ainda assim, Hugo defende que o papel já não chega para nos distinguirmos. O cartão pessoal ou mesmo um vídeo são essenciais já que “Hoje em dia toda a gente anda com smartphones e tablets. Um vídeo (curto, não muito maçudo, que aborde as questões implícitas das pessoas e também as explícitas) é essencial”.

Diferentemente, Hugo também sabe que existem informações que são proibidas nos currículos: “Coisas que não podemos provar ou que possam jogar contra nós: ser confiante, ser bem-falante, ter poder de persuasão, saber vender coisas. Isso são coisas que se mostram no terreno e no dia-a-dia da empresa e que, depois, se não for como nós estamos a dizer, pode correr mal”, alerta.