A relação entre a companhia de teatro Seiva Trupe e o Teatro do Campo Alegre (TCA) não é estranha. Quem o diz é Júlio Cardoso, que defende assertivamente que “o Teatro do Campo Alegre existe porque existe a Seiva Trupe”. “Até então, não havia nenhuma tradição de construção de teatro em Portugal. A partir da Seiva Trupe, começaram-se a construir vários. Foi uma amostra para dezenas de teatros, não só em Portugal, como em Espanha”, acrescenta o diretor artístico da companhia.

No entanto, a relação ganhou contornos amargos quando em outubro do ano passado, quando a companhia recebeu ordem de despejo por parte da Câmara Municipal do Porto (CMP), apanhando-a de surpresa. No ano em que comemorou o seu quadragésimo aniversário, o incumprimento no pagamento de uma dívida relacionada com a ocupação do espaço do TCA motivou a ação levada a cabo pela CMP. A companhia residia no TCA desde 2000, depois de ter assinado um contrato com a Fundação Ciência e Desenvolvimento.

Um caso “cheio de ilegalidades”

“Temo-nos remetido a um silêncio absolutamente sepulcral desde o fim do ano transato. As coisas estão em tribunal, estão a correr os seus trémitos judiciários”, diz Júlio Cardoso, diretor artístico da companhia. Apesar do segredo em torno do processo, o diretor artístico da companhia refere que o caso “está cheio de ilegalidades”.

“A partir do primeiro contrato que fizemos, foi sempre com a Fundação Ciência e Desenvolvimento que passou a ser a proprietária do Teatro do Campo Alegre e de um momento para o outro fomos despejados pela Câmara Municipal do Porto, uma societária da fundação. Mas não era só a Câmara Municipal do Porto. A Universidade do Porto também era. Isto está tudo ilegal”, defendendo assim Júlio Cardoso a posição da companhia no processo.

O teatro foi construído para a nossa dimensão e realidade”

O ator defende ainda o papel da companhia no que toca à importância do desenvolvimento das diversas formas de espetáculo. “O teatro foi concebido ao centímetro, construído para a nossa dimensão e realidade. Há espaços que estão ali há um ano que podem ser usados pelas melhores companhias. Há vários espaços por várias companhias. Os espaços podem funcionar todos ao mesmo tempo, o café teatro, o auditório, a sala experimental, o cinema, o restaurante, a galeria. Tudo está ali a funcionar ao mesmo tempo. A Seiva Trupe tem-se debatido muito para que o Teatro do Campo Alegre abra as portas e os espaços estejam a funcionar”, partilha Júlio Cardoso. O diretor artístico diz que a companhia Seiva Trupe não ocupa mais que seis meses por ano um dos espaços do TCA e que o TCA dispões de quatro espaços. Por isso, classifica o despejo como “uma coisa totalmente ridícula”.

Questionado sobre a relação com a CMP, Júlio é claro e diz que o novo executivo da Câmara Municipal do Porto não tem dado respostas nenhumas sobre o caso. O JPN contactou a CMP sobre esta questão, mas não obteve respostas em tempo útil.

Atualmente, a companhia de teatro não tem um espaço de trabalho fixo, mas mantém-se ligada ao Porto. “Enquanto o tribunal não resolver a questão, vamos desenvolvendo trabalhos em diversos espaços da área metropolitana do Porto”, refere Júlio Cardoso. Entretanto, o diretor artístico diz que “dentro de um mês, nem isso”, a companhia apresenta um novo trabalho.