Um recente estudo da Comissão Europeia veio confirmar o que o senso comum já adivinhava: o setor da tecnologia é liderado por homens e entre estes as mulheres são uma minoria. O estudo revela que apenas 9% das aplicações para dispositivos móveis (apps) são desenvolvidas por mulheres.

Também apenas 19% dos gestores de tecnologias da informação e da comunicação são do sexo feminino, enquanto nos outros setores a proporção é de 45%. Também o número de mulheres com um grau académico em informática está em queda: 3% das mulheres com grau académico, face a 10 % no caso dos homens. A estes números soma-se a agravante de haver mais mulheres do que homens a deixar o setor a meio da carreira.

Neelie Kroes, vice-presidente da Comissão Europeia, quer mudar esta realidade: “As TIC (Tecnologias da Informação e Comunicação) deixaram de ser território de um pequeno número de iniciados. É um setor entusiasmante e constitui o futuro. Vamos lá! Experimentem a programação e vejam como pode ser divertido”, alicia.

Desafio para “Every Girl Digital”

A campanha da Comissão Europeia lança um desafio: fazer um vídeo a contar a história pessoal de sucesso no mundo digital e divulgá-lo na página Every Girl Digital, no Facebook. O objetivo é inspirar raparigas e mulheres a pensarem de forma mais tecnológica.

Assim, lançou a campanha “A tecnologia é demasiado importante para ficar entregue aos homens” para incentivar jovens mulheres a estudarem e seguirem carreira nesta área, bem como às atuais profissionais a não abandonarem.

O objetivo da campanha não passa apenas pela promoção de igualdades de oportunidades, mas também pelo crescimento económico: segundo um estudo da Comissão, se a percentagem de mulheres em empregos digitais fosse igual à dos homens, o PIB da União Europeia poderia crescer para nove mil milhões de euros por ano.

Atualizar o “software” das mulheres

Mónica Graça recebeu o seu primeiro computador aos 9 anos e nunca mais largou o rato e as teclas. Hoje em dia é engenheira de software na empresa Wit Software.

Quer ao longo dos estudos quer na vida profissional foi sempre uma minoria, mas nunca desintegrada: “Nunca senti de forma alguma que ser mulher influenciava em alguma coisa o meu percurso académico”, garante.

No primeiro ano do curso em Engenharia Informática, na Faculdade de Ciências e Tecnologias da Universidade de Coimbra, entrou com mais cinco raparigas, mas quatro desistiram. No entanto, Mónica considera que esta tendência está a mudar e isso serve-lhe de alento: “Temos que nos manter atualizadas e mostrar que também somos capazes de fazes coisas únicas e para o mundo inteiro”.

Também para Diogo Velho, responsável pela comunicação da empresa de software Blip, os dados avançados pelo estudo da Comissão Europeia não são uma novidade, mas sim um desafio. A Blip procura um equilíbrio entre o número de mulheres e homens a trabalhar na empresa por considerar que é positivo para o local de trabalho “quebrar o ambiente masculino que existe entre as empresas de tecnologias”.

Em associação com a organização Portugal Girl Geek Dinner, a empresa procura promover o uso e o gosto pela tecnologia nas raparigas. O objetivo não é mudar nada a curto prazo mas sim a longo prazo, através de campanhas apropriadas para crianças e jovens do sexo feminino.

União pelas jovens tecnológicas

Também a União Internacional de Telecomunicações pretende promover as tecnologias entre as mulheres e todos os anos comemora o Dia das Jovens Mulheres nas Tecnologias de Informação e Comunicação a 24 de abril.

“Geek” no feminino

São cada vez mais as empresas e as organizações que procuram levar a tecnologia ao universo feminino (e vice-versa).

Inês Silva é co-embaixadora de uma destas plataformas: Portugal Geekettes. Mesmo não tendo formação de base na área, Inês tem estudado as TIC além-fronteiras e faz delas as suas ferramentas de trabalho diário.

Na opinião de Inês, o desinteresse das mulheres europeias pelas tecnologias advém de convenções sociais e culturais. Este desinteresse, aliado à falta de empreendedorismo, justifica o facto de as mulheres serem uma exceção nas empresas de tecnologia e, mais ainda, na sua chefia.

Mas estas não são características das Portugal Geekettes, uma “rede de mulheres que gostam de tecnologia e que querem ser empreendedoras e aprender umas com as outras”. As “geeks” portuguesas querem ter a companhia de mais mulheres nesta jornada pela tecnologia.