Paulo Rebelo é o apostador profissional mais conceituado em Portugal e procura explicar o que é ser trader: “Alguém que analisa a probabilidade de algum acontecimento se concretizar e, mediante isso, faz apostas sobre o que irá acontecer”. Contudo, o conceito de trading é um pouco mais complexo: significa uma negociação de apostas desportivas, tal como na bolsa de valores se negoceiam ações. Um trader compra e vende apostas de outros apostadores e lucra com as flutuações do mercado.

Este mercado tem crescido exponencialmente em todo o mundo e Portugal não é exceção, apesar da atual crise económica. São cada vez mais os jovens (e não só) que se dedicam a esta atividade.

Formado em Gestão, Paulo Rebelo cedo percebeu que o promissor futuro profissional na área de estudos não lhe era tão rentável como o hobbie que agora considera ser profissão.

Atualmente, com 30 anos, Paulo é fundador e presidente da Associação Nacional de Apostadores Online (ANAON), bem como criador do site Academia de Apostas, que conta com mais de 150 mil apostadores registados. A maioria são jovens que se estão a lançar nesta forma de vida.

Entre eles, Tiago Pereira, de 21 anos. Entrou no mundo das apostas online há um ano e meio, por mera curiosidade. O jovem afirma que, no início, “é um processo de aprendizagem e os ganhos nem sempre correspondem às expectativas”.

Ambos os apostadores realçam a predominância da aprendizagem, face à sorte. Paulo considera que são essenciais as qualidades inatas, como a intuição, mas também um conjunto de qualidades técnicas. “Dentro dessas qualidades estão a capacidade técnica de fazer uma aposta, a disciplina, o controlo emocional, que são coisas que podem ser aprendidas com o tempo”, diz. Também Tiago destaca a importância da disciplina.

Living la vida à “trader”

Tiago está ainda no início, mas já vê a sua vida condicionada pelo trading. No início de cada semana, faz a programação dos jogos em que vai apostar e organiza o seu quotidiano consoante os horários dos mesmos, o que limita aspetos da vida pessoal. No entanto, afirma que é importante abstrair-se do trabalho e não viver a 100% para as apostas, pois cria uma maior pressão e isolamento.

Paulo, por sua vez, explica que um típico dia de trabalho é ler os jornais desportivos, ver os jogos de futebol e analisar estatísticas, para na hora do jogo estar preparado para tomar decisões em milésimos de segundo. Esta rotina mantém-se independentemente da cidade em que esteja. Porto, Madrid e Londres são cidades onde Paulo tem casa para estar mais perto dos clubes que estuda e aposta.

Dinheiro gera dinheiro. Quanto mais se investe na atividade, maior o retorno. Paulo Rebelo já fez 36 mil euros numa aposta. O jovem Tiago ainda lhe segue as pisadas, mas já conseguiu apostas que superaram os mil euros.

Hobbie ou profissão?

Como um dos primeiros professional traders do país, o presidente da Associação de Apostadores conhece histórias de êxitos e fracassos. Assim, Paulo defende que “as apostas devem ser encaradas como um hobbie, tal como o desporto o é para a maioria das pessoas, mas há uma minoria que é profissional e dentro dos profissionais há uma minoria mais pequena ainda que ganha muito dinheiro – com as apostas acontecerá o mesmo”. Apenas para os que nasceram com as qualidades inatas e desenvolveram as técnicas necessárias, é possível apostar de forma a obter ganhos consistentes que lhes permitam viver em exclusivo das apostas.

Paulo é famoso pelas suas apostas, com livros publicados, ao contrário de Tiago que para já prefere não “espalhar aos quatro ventos” a sua dedicação às apostas, embora o preconceito lhe seja indiferente.

Impostos: as apostas dos Estados

No mundo do trading há um novo apostador: o Estado português está a trabalhar na regulação deste mercado. A ANAON compreende que os milhões de euros que a indústria do jogo move sejam taxados, mas defende um modelo semelhante ao de Inglaterra: “As casas de apostas pagam um imposto especial, que as outras empresas não pagam, mas os apostadores ficam livres de pagar impostos adicionais sobre o jogo”.

Tiago une-se a este coro e considera que se a regulação cortar nos ganhos dos apostadores, estes vão afastar-se e, consequentemente, o Estado vai perder com isso. Na sua opinião, esse é o caminho para muitos apostadores profissionais emigrarem para paraísos fiscais. Por enquanto, Paulo e Tiago continuarão sentados no sofá, com os olhos na televisão e os dedos no computador, a apostar nos golos que para eles são dinheiro.