Bem a Norte, existe a Rádio Universitária do Minho, que nasceu em 1984, no meio de protestos estudantis, devido ao aumento do preço das refeições nas cantinas universitárias. “A Universidade do Minho não passou ao lado dessa contestação”, recorda João Paulo Rebelo, diretor técnico e de programas da RUM. “E um grupo de alunos apresentou a proposta de criação de uma rádio universitária para que fosse possível dar voz aos alunos e às suas reivindicações”.

O modelo de funcionamento da RUM é bastante profissional: possuem 15 elementos a tempo inteiro, dos quais apenas quatro estão em estágio, os restantes pertencem aos quadros da Associação Académica. “Estamos abertos, sempre estivemos e sempre estaremos abertos a receber estagiários de Jornalismo ou de Comunicação Social, mas apenas no contexto de estágio curricular ou profissional”.

Bolonha veio complicar

“Com o processo de Bolonha, as coisas variam um bocadinho. Em vez de termos pessoas cinco, seis anos na rádio, agora passamos a ter três, dois ou até um ano e isso dificulta muito”, diz o presidente da RUC. “Não só porque é cada vez mais difícil ter pessoas na rádio, mas também porque elas ficam cada vez menos tempo e têm menos experiência e tempo de formação. No entanto, também é bom porque vai-se renovando o espírito e o sangue! É uma rádio às vezes muito mais viva do que era”.

Já a Rádio Universidade de Coimbra (RUC) surgiu no dia 1 de março de 1986, altura em que se concretizou como FM depois de cerca de 40 anos enquanto Centro Experimental de Rádio. “Hoje, 28 anos depois, somos a única rádio local em Coimbra com emissão FM”, conta Guilherme Queiroz, presidente da RUC. “Também temos uma emissão online, que nos orgulha muito por termos sido a primeira rádio da Península Ibérica a ter uma”.

A Rádio Universidade de Coimbra assume-se como uma “rádio-escola”, com três áreas de formação-base: a de locução, a de informação e a área mais técnica, “os bastidores da rádio”, como Guilherme descreve.

Ninguém recebe por trabalhar na RUC: todos são amadores. E ainda que o destaque seja dado aos alunos do curso de Jornalismo, qualquer pessoa pode contribuir, se assim o desejar. No entanto, o presidente destaca uma realidade interessante que se tem vindo a verificar nos últimos anos: “Não sabemos se por uma falta de interesse generalizado, se por outras razões, mas a verdade é que a percentagem dos alunos dos cursos de Ciências da Comunicação tem vindo a diminuir nos nossos cursos de informação”. Ainda assim, Guilherme não considera essa tendência necessariamente .

Também em Coimbra, existe o jornal A Cabra. Nascido em 1990 pelas mãos de um grupo de estudantes de Direito, juntou-se a outros jornais já existentes, como “A Cábula” e a “Gazeta Académica”, que pecavam pela “falta de regularidade”.

Quem o diz é Rafaela Carvalho, atual diretora de arte d’A Cabra, que neste momento estuda no Porto, na Faculdade de Belas-Artes. Rafaela conta que também n’A Cabra, à semelhança do que acontece na RUC, qualquer pessoa pode colaborar, desde que seja estudante.

Já em Lisboa, encontramos a Rádio Zero, que surgiu na sequência da última encarnação da rádio interna do Instituto Superior Técnico, em 2006.

João Bacalhau, presidente da administração da Zero, conta que a escolha do nome se deveu ao facto de a rádio “não ter uma filosofia voltada para dentro do Técnico apenas, não era uma rádio para passar música nos intervalos, mas estava aberta a toda a gente, fosse ou não universitário, fosse ou não do Técnico”.

João explica que, embora considerem que “no meio universitário está, à partida, o grosso da massa crítica de pessoas que podem ter novas ideias e boas ideias para aplicar em rádio”, acolhem todas as pessoas que apresentarem propostas interessantes de novos programas, tenham ou não experiência em rádio. “Não há profissionais dentro da Rádio Zero, toda gente é amadora, toda a gente faz aquilo por amor à camisola, ninguém é pago e em princípio continuará a ser assim durante muito tempo ou mesmo para sempre”.

Em Portalegre também há um jornal académico, que surgiu em 2002. Luís Bonixe, fundador e atual coordenador, explica que o ESEPJornal nasceu “de um processo natural” no curso de Jornalismo e Comunicação da Escola Superior de Educação de Portalegre: a produção do órgão de comunicação foi incluída nas unidades curriculares do curso.

No ESEPJornal, a produção de peças jornalísticas é obra exclusiva dos alunos do curso de Comunicação; no entanto, e como o jornal está muito voltado para aquilo que acontece no distrito de Portalegre, os habitantes da região são convidados a participar nele também. Mas o professor lamenta que isso aconteça “mesmo muito pouco”.

O JPN aos olhos dos outros meios

“No campo do jornalismo universitário é de facto uma referência, um projeto que está muito bem estruturado.”, elogia o professor Luís Bonixe, do ESEP Jornal. “E, já agora, eu costumo usá-lo como exemplo nas minhas aulas de Ciberjornalismo, como algo que pode ser feito e bem feito. É um projeto que da minha parte merece os parabéns e os votos para que continue a fazer o excelente trabalho que tem feito até agora!”.

Ainda mais a Sul, existe a Rádio Universitária do Algarve. Pedro Duarte, diretor de antena, conta que a RUA surgiu no final dos anos 90, pelas mãos de um grupo de alunos que, sabendo que existiam rádios universitárias noutras academias do país, “meteram na cabeça que era um dos projetos que realmente faltava ao Algarve”.

E neste projeto, que funciona 24 sobre 24 horas, qualquer um pode participar, independentemente da idade ou formação. “Acho que o colaborador mais jovem deve ter 20 anos e o mais velho mais de 70!”, refere Pedro. “Continuamos abertos para receber programas de autor e para outro tipo de conteúdos que possam ser criados”.

“A falta de colaboradores é essencial”

Para Rafaela Carvalho, do jornal A Cabra, a maior dificuldade que o jornal atravessa, neste momento, é mesmo a falta de quem queira escrever nele. “A falta de colaboradores é essencial. Nós, atualmente, a nível financeiro não nos podemos queixar, temos dinheiro suficiente para imprimir o jornal. Mas não temos pessoas suficientes para o fazer”, lamenta.

Por outro lado, no ESEP Jornal o que mais custa é a “sazonalidade” do jornal. “Nós temos alguma produção quando temos aulas. Quando não temos aulas ela cai drasticamente, portanto, os meses de verão são meses muito pobres em termos de produção noticiosa”, diz Luís Bonixe. “O nosso grande desafio tem a ver com aquela ideia de criarmos uma estrutura que nos permita, se não acabar com esta sazonalidade da produção, pelo menos fazer com que o jornal seja atualizado de uma forma permanente ao longo do ano”.

Já na Rádio Universitária do Algarve, ter a conotação de rádio universitária só traz benefícios. “Todas as rádios fora dos grandes centros urbanos são ‘pimba’. É esta mais ou menos a referência. Quando se coloca que aquela rádio é universitária, o ‘pimba’ risca-se automaticamente”, afirma Pedro Duarte. “E aí eu acho que o retorno tem sido completamente diferente, desde algumas editoras que nos trataram desde logo de forma diferente porque somos universitários, e de uma forma positiva”.

Mesmo que a falta de dinheiro ou de colaboradores possa eventualmente trazer dificuldades, é sempre possível e necessário ultrapassá-las para manter o jornalismo académico vivo em Portugal. “É sempre uma mais-valia qualquer site ou qualquer ponto noticioso que possa haver, para que os estudantes sintam que estão a ser informados por parceiros, por pessoas que são iguais a eles, por pessoas que trabalham na mesma área que eles e que estudam nos mesmos locais”, remata Rafaela Carvalho. “Porque é uma diferente perspetiva e está escrito numa linguagem que eles percebem, numa visão que eles também percebem e com a qual se sentem identificados, não precisam de ler os jornais regionais ou os jornais nacionais para saberem as notícias que realmente lhes interessam”.