Sem notificação prévia à direção da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto (FBAUP), a associação de estudantes (AEFBAUP) decidiu organizar, nesta segunda-feira, um protesto em frente à entrada da faculdade. À hora combinada, membros da AEFBAUP sentaram-se no chão enquanto um modelo nú por eles convidado começou a despir-se numa gélida tarde primaveril. Em volta, apenas transeuntes, que ignoravam o motivo do protesto.

Mas havia motivos para a iniciativa: apontar “o subfinanciamento da nossa faculdade que se reflete diariamente no nosso trabalho”, explica Maria Silva, estudante de Artes Plásticas. Entre estas consequências do parco orçamento da FBAUP, Maria lista questões como a insuficiência de horas de acesso a salas de trabalho e o facto de os estudantes terem de pagar a quase totalidade dos materiais que usam do seu próprio bolso.

A estudante da vertente de Escultura aponta que “cada vez são menos os jovens que se conseguem candidatar ou mesmo manter na licenciatura com estas condições, sobretudo no contexto de dificuldades económicas” atuais.

Uma mensagem de solidariedade

A direção da Faculdade de Belas Artes não procurou comentar um protesto para o qual não foi notificada e cuja mensagem fundamental lhes é desconhecida. No entanto, na pessoa de Joana Cunha, o gabinete de comunicação da faculdade quis deixar uma mensagem de solidariedade com o protesto. Reconheceu que, de facto, as condições de materiais e infraestruturas não são as melhores, mas que sempre que este assunto é trazido a debate pela associação de estudantes a direção procura transmitir a noção de que estas dificuldades são irremediáveis e independentes da boa vontade das entidades envolvidas.

“Tem de se perceber que as artes são algo importantíssimo”

Apesar de os representantes da associação de estudantes reconhecerem que estas são dificuldades transversais a todas as faculdades do país nesta área, não deixam de querer ressalvar que isto se deve também a uma injusta distribuição dos fundos públicos por entre as várias faculdades dentro de cada instituição do Ensino Superior. Inês Soares, aluna do ramo Multimédia de Artes Plásticas, acusa uma visão das Belas Artes como uma área de ensino menor e menos recompensada por ser menos produtiva do que as outras.

“A redistribuição dos fundos feita pelas unidades orgânicas obedece a critérios que se prendem com o valor imediato no mercado, como Economia ou Medicina”, prossegue Inês, “mas as pessoas têm de perceber que as artes são algo importantíssimo para o funcionamento da sociedade”.

Por esta altura, já vários estudantes se tinham juntado ao esboço em grupo, ocupando o passeio por completo. Entre os estudantes que julgavam tratar-se de uma instalação ou performance e os transeuntes que apenas se mostravam sensibilizados para a falta de espaço para circular, o único elemento que ainda garantia a mensagem eram os posters que convocavam para a manifestação geral dos estudantes do Ensino Superior, no dia 2 de abril, no Largo do Carmo, em Lisboa.