Paulo Bento e Fernando Santos estiveram, durante uma hora e meia, à conversa com a plateia presente no último dia do Fórum de Treinadores de Futebol/Futsal, que decorreu na Maia. E não fugiram às questões dos mais curiosos. No início do painel, Paulo Bento destacou a evolução do treinador português, destacando que a sua marca irá ser vincada no próximo campeonato do mundo no Brasil.

O selecionador nacional frisou que Quaresma e Fernando são jogadores que podem ser chamados e, de forma descontraída, afirmou ironicamente que “a convocatória será feita no dia 19 de manhã”, o dia do anúncio da lista dos escolhidos para o Mundial. Confrontado com críticas diárias às suas escolhas, o selecionador nacional aproveitou a ocasião para reiterar que “o treinador português pensa pela sua cabeça” e que os 23 que irão ao Mundial sairão da sua cabeça e das pessoas que trabalham com ele.

As questões sobre os jogadores não acabaram e confrontado com o “dossiê” avançados, Bento respondeu assim: “Foi-se construindo o mito de que não tínhamos avançados” e que “tivemos até há bem pouco tempo o melhor marcador de sempre e dizíamos que não tínhamos avançado”, referindo-se a Pedro Pauleta. O ex-treinador do Sporting salientou o importante período de três semanas de estágio que antecederão a participação lusitana no Mundial, para destacar que, ao contrário do que acontece aquando dos jogos de qualificação, o estágio pré-Mundial irá servir para implementar nos jogadores as ideias do jogo que a equipa técnica pretende para a partida de estreia na competição frente à Alemanha, a 16 de junho.

A magia da formação do Barcelona

Joan Vila Bosch, coordenador do futebol de formação do Barcelona, falou durante uma hora à plateia, abordando minuciosamente todos os pormenores da sua academia. A magia do “Tiki-Taka” foi explicada na Maia, envolvida também com histórias de Messi, Xavi, Iniesta ou Abidal.

Fernando Santos aproveitou para realçar a ascensão dos treinadores portugueses para reiterar a sua confiança numa boa prestação dos mesmos no Mundial 2014. O atual selecionador da Grécia não escondeu os problemas que enfrenta na Grécia com poucos jogadores selecionáveis e a má organização do calendário que prejudica a condição física dos seus eleitos.

Mesmo assim, o técnico preferiu valorizar a presença no Brasil que, “por si só, é um passo muito grande”, destacando que, por terras Helénicas, “o povo está muito ansioso”. No que diz respeito à preparação da sua equipa para a grande competição, Santos realçou que existem diferenças entre as várias seleções no planeamento do próximo Mundial.

Ser treinador lá fora

No mesmo dia, Jaime Pacheco, Henrique Calisto e Helena Costa juntaram-se num painel para falar das experiências que tiveram no Médio Oriente e Ásia. Os três concordaram que é fulcral estar pronto para reagir a situações bastante adversas e que é importante não ser apenas treinador, é preciso estar envolvido em todas as áreas. Calisto diz mesmo que um “treinador sem versão humana é mau” e, por isso, deve haver um conhecimento profundo da realidade que se vai encontrar quando se treina no estrangeiro. Para o ex-técnico da seleção do Vietname, existe uma grande diferença entre os países, sobretudo no que diz respeito ao papel das empresas no futebol.

Futsal em discussão

No Fórum, houve espaço também para um painel acerca de Futsal de Alto Rendimento com Jorge Braz, selecionador nacional, Paulo Fernandes, ex-técnico de Benfica e Sporting, e Bruno Travassos, docente universitário e treinador de futsal.

Jaime Pacheco esteve na Arábia Saudita e China e destacou que as realidades são completamente diferentes. Na Arábia Saudita viveu um clima “ditatorial”, referindo a prepotência do “sheiks”, os donos do clube, e a sua tentativa de fazerem o papel de treinador. O técnico não se coibiu de relembrar uma história na qual se defrontou com a própria ausência de alguns jogadores nos treinos diários.

Na China encontrou “infraestruturas fabulosas”, mas sem futebol de formação, o que complica crescimento da modalidade. O treinador campeão nacional pelo Boavista em 2001 aproveitou a ocasião para se pronunciar sobre o atual estado do futebol português, para relembrar que teve um importante papel na evolução do futebol nacional.

Henrique Calisto, que esteve no Vietname, encontra grandes diferenças pelo facto de em Portugal existirem “pessoas com verdades absolutas” enquanto no estrangeiro “as pessoas estão dispostas a conversar, a discutir e a aprender”. Calisto e Pacheco concordaram que o futebol é um veículo de divulgação do nosso país e o ex-treinador do Paços de Ferreira assinalou que, “se um treinador português ganhar mais um troféu, são mais as portas que se abrem para outros”. Esta ideia foi apoiada por Jaime Pacheco, que reforçou a importância da modalidade para abrir portas e afirma que, no estrangeiro, “muitos deles não sabem onde é Portugal, mas conhecem os jogadores portugueses, como Cristiano Ronaldo”.

Outra das intervenientes neste painel foi Helena Costa, que passou por Kuwait e Qatar, conseguiindo desenvolver o futebol feminino nas duas nações. A treinadora não escondeu as dificuldades sentidas durante o percurso no continente asiático, mas destacou que a experiência acabou por ser positiva.