“Por um futuro melhor, um ensino, a todos os níveis, superior” – esta é apenas uma entre as cerca de mil mensagens que chegaram à Federação Académica do Porto (FAP) nos últimos dias. Para já não está definido o tipo nem o tamanho da letra e, por isso, o número de páginas está por apurar.

O conteúdo já é outra história. O “valor das propinas que devia ser inferior, a demora na respostas e a falta de justiça na atribuição de bolsas de estudo”, as más condições das instalações e o desfasamento do método de ensino, ainda muito mais teórico do que prático, são os principais motivos para reclamar de acordo com Rúben Alves, Presidente da FAP. Para além disto, “há ainda um grande grupo de mensagens com perspetivas sobre a importância da educação no ensino superior”, refere.

“Não te cales! Manifesta a tua opinião”

As associações académicas pediram aos estudantes uma mensagem sobre a importância do ensino superior ou sobre algum problema que quisessem ver alterado. As reclamações chegaram através de um formulário online, por e-mail e via contacto direto com os estudantes nos corredores de escolas, institutos e faculdades. As ideias foram transformadas em imagens e algumas foram publicadas nas redes sociais. Depois de compiladas num livro de dimensão nacional, as reivindicações vão ser enviadas para o Primeiro-Ministro e o Presidente da República.

Os temas da Academia do Porto não são muito diferentes dos restantes apresentados pelas outras doze associações envolvidas a nível nacional. Carlos Videira, Presidente da Associação Académica da Universidade do Minho (AAUM), explica que a ineficiência da ação social escolar é uma das principais críticas, “visto que são a instituição do ensino superior com o maior número de bolseiros”.

Os estudantes do Minho não calaram ainda as preocupações em relação ao futuro com a entrada no mercado de trabalho e à valorização da formação superior. Segundo Carlos, os números do abandono escolar também se refletiram nas cerca de 1500 mensagens dos alunos. Um problema cada vez maior, mas difícil de medir pela AAUM.

Apatia só se for política

André Machado, Presidente da Associação Académica de Lisboa (AAL), contabilizou 500 contributos, que correspondem a apenas metade das Associações de Estudantes da Universidade de Lisboa. O presidente da AAL aponta as propinas como as grandes “culpadas” não só pelo abandono como também pela diminuição de jovens a aceder ao ensino superior.

André diz-se ainda surpreendido com o descontentamento mostrado em relação aos atuais métodos de ensino. Um tópico que levou os estudantes a apontar o dedo a um corpo docente, regra geral, envelhecido.

Se as mensagens retratam os pontos negativos do ensino superior, o balanço que os três presidentes associativos fazem é bastante positivo e contraria as teses que atestam o desinteresse cívico dos jovens. Para André Machado, da AAL, esse discurso não passa de um mito, até porque “diminui a intervenção clássica, mas aumenta a participação através de novos canais de comunicação”.

Embora afastados dos partidos, “os estudantes têm sido muito participativos, promovem a discussão com grande elevação e fazem propostas concretas”, afirma Carlos Videira, da AAUM. O presidente da associação estudantil do Minho vai mais longe ao afirmar que a apatia é uma característica da tutela, não dos estudantes.

Soluções?

“Necessariamente”, atira André Machado. Os autores do livro não se limitaram a escrever o que está mal, apontando também o caminho para a resolução de muitos dos problemas. No entanto e segundo Rúben Alves, é difícil desenhar soluções em 20 palavras, o máximo permitido por reclamação, e, por isso, as propostas vão servir mais como “instrumento de pressão do governo”, esclarece. Até porque o movimento associativo nacional já tem um arquivo de ideias e soluções. O que muda, segundo André, é que já não são só os dirigentes sindicais a intervir.

Mas será que vão ter direito a resposta? “Estou confiante que o Presidente da República receberá o documento e não deixará de o analisar”, prevê André. Ao governo, exigem os três uma resposta. Mais difícil é que esta surta efeito. “As respostas têm surgido, às vezes não são é as mais positivas”, comenta Carlos Videira.