Os jovens europeus entre os 18 e os 29 anos estão com cada vez mais dificuldades de saírem de casa dos pais. Segundo um estudo divulgado pelo Eurofound, há cada vez mais jovens com falta de capacidade para garantirem a independência. Entre 2007 e 2011, o número de jovens a viver com a família entre os 28 Estados-membros da União Europeia (UE) aumentou de 44 para 48%.

Portugal, apesar de estar acima da média europeia, conseguiu reduzir o número de 59 para 55%. Ainda assim, o mesmo documento colocou o país no quarto lugar entre aqueles em que há mais jovens a viverem em carência extrema, num valor bem acima da média europeia (22%).

Segundo o Eurofound, aspetos como manter a casa quente, comprar roupas novas ou comprar carne ou peixe para as refeições são luxos para quase 40% dos jovens portugueses dentro desta faixa etária. O relatório, publicado por esta agência da UE, baseou-se em 45 mil entrevistas realizadas em 2011, das quais 1013 foram a jovens portugueses.

“No poupar está o ganho”

Catarina Ramos tem 23 anos e apesar de ter concluído em 2013 o mestrado integrado em Engenharia Civil, ainda não tomou a decisão de sair de casa dos pais. A jovem realça que a sua decisão prende-se com o baixo salário que aufere no estágio que está a realizar no IEFP, o que torna impossível a sua total independência financeira, preferindo poupar para enfrentar o futuro com maior otimismo.

Catarina destaca que o apoio dos pais é fundamental e que estes nunca lhe exigiram nada em termos económicos. Ainda assim, a jovem realça que os motivos para o elevado número de jovens a dependerem dos pais prendem-se não só com a falta de empregos disponíveis mas também com algum comodismo que os jovens sentem quando se deparam com o conforto caseiro.

Catarina destaca que o Estado e as empresas têm um papel determinante para a independência dos jovens. Para a engenheira Civil, se a conjuntura atual se mantiver difícil para os jovens, a perspetiva só se poderá alterar com o aumento da emigração jovem, que irá obrigar os jovens a procurarem novas alternativas para sobreviverem às dificuldades do mercado de trabalho.

“Atualmente os jovens são descartáveis”

Tiago Morais tem 28 anos, está a tirar a licenciatura em Ciências da Comunicação na Universidade Fernando Pessoa e atualmente trabalha num hipermercado. Apesar de estar a trabalhar, o jovem refere que ainda não teve necessidade de sair de casa dos pais, pois prefere poupar aquilo que ganha para garantir uma perspetiva mais favorável a longo prazo.

Tiago critica a atitude das empresas no atual mercado de trabalho, pois considera que estas tratam os jovens como “descartáveis”, preferindo privilegiar os trabalhos temporários e as constantes trocas de funcionários, o que para Tiago impossibilita toda e qualquer possibilidade de estabilidade económica para os jovens. Tiago Morais defende uma maior entreajuda entre o Estado e as empresas para que os jovens tenham cada vez mais possibilidade de saírem de casa dos pais com garantias económicas de independência.