O ciclo de cinema da Casa das Artes sobre Educação terminou nesta segunda-feira, 31 de março. Em exibição esteve o filme “Dentro de Casa“, uma longa-metragem do francês François Ozon sobre Claude, um estudante que escreve peças literárias sobre a família de um colega.

Baseado na peça “El Chico de la Ultima Fila”, do dramaturgo Juan Mayorga, o filme acompanha a evolução de Claude e a forma como este se vai inserindo na vida da família que usa como protagonista nos textos que escreve. O estudante é incentivado por Germain (Fabrice Luchini), o professor de francês que, fascinado com o talento de Claude, acaba por se envolver mais do que seria esperado.

Os textos do estudante acabam por confundir o real e o imaginário, num filme que explora a literatura, o voyeurismo, a educação e os limites do ensino.

“Cada um de nós é uma narrativa na qual somos o principal narrador”

À sessão de cinema seguiu-se uma conversa com a audiência, liderada por Rui Lage e por Vítor Martins. O primeiro considerou que “o filme desperta várias leituras e, embora tenha algumas subtilezas, pode-se dizer que é um filme entregue ao jogo”, pela tentativa percetível de ligar a realidade e a ficção.

“Dentro de Casa” encerrou o ciclo

“Dentro de Casa” recebeu a Concha de Ouro (melhor filme) no Festival de San Sebastián e foi distinguido com o prémio de Melhor Argumento no mesmo festival e também nos Prémios do Cinema Europeu. O filme de 2012 recebeu ainda o Prémio da Crítica Internacional pelo Toronto International Film Festival.

O ciclo de cinema sobre educação, organizado por um grupo de estudantes da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação (FPCEUP) e da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto (FBAUP) chega, assim, ao fim, depois da exibição e discussão dos filmes “Mel“, de Semih Kaplonoglu, “Elephant“, de Gus Van Sant, e “O Enorme Sonho“, de Sebastian Grobler.

O escritor transpôs a literatura do filme e a importância de contar histórias para um contexto universal. “Nós somos feitos de histórias. Cada um de nós é uma narrativa na qual somos o principal narrador”. Em referência ao filme, Lage relembrou que, enquanto personagens em construção, todos “ficcionam o passado e projetam o futuro”. “Vamos inventando percursos, estudando e imaginando possibilidades”, explicou.

A intervenção de Vítor Martins refletiu sobre a questão “O que é contar uma história?”. Recorrendo a citações de Walter Benjamin, concluiu que a arte de contar histórias se está a perder. “A arte de contar histórias era educadora da humanidade e, de alguma maneira, perdendo-se esta educação, estamos a tornar-nos mais pobres”, explicou.

Sobre o filme em exibição, Vítor Martins recordou que “o cinema é particularmente indicado para despertar em nós o desejo e o gosto de contar histórias, sem muitas análises ou psicologias”, e apontou a existência de “um jogo curioso” na película de François Ozon. “É uma fábula moderna e acho curioso que possamos perceber aqui duas histórias diferentes: uma a que nos filme nos conta, uma fábula, e uma que se desenvolve no interior do filme, que é uma não-história”, concluiu.