O Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE) de Lisboa levou a cabo um estudo sobre Medicamentos e Consumos de Performance com jovens entre os 18 e os 29 anos. Os resultados apontam que 71,9% deles já consumiu substâncias que desenvolvem as capacidades neurocognitivas e corporais.

O estudo, o primeiro a nível nacional nesta área, mostra que um quarto dos jovens (25,3%) toma fármacos para aumentar a concentração. Adelaide Oliva Telles, psicóloga, acredita, no entanto, que estes suplementos não são necessários, desde que se tenha uma alimentação equilibrada e um estilo de vida saudável.

O efeito placebo

“Muitos estudos revelam”, segundo Adelaide Telles, “que, além do efeito placebo” (o efeito psicológico de o paciente ficar curado por acreditar que está a ser tratado), “os químicos não chegam assim tão facilmente às sinapses do cérebro onde é processada a informação”.

Por outro lado, a psicóloga acredita que uma gestão de tempo, quer em períodos de prestação de exames, quer em épocas de trabalho mais intenso, é a solução ideal para o cérebro não se cansar, sendo, por isso, desnecessário consumir extratos vitamínicos ou medicação para dormir.

Pedro Pinto da Costa diz que consome suplementos vitamínicos há já algum tempo, mas que não o faz em ocasiões particulares. Confessa que os toma para compensar uma possível falta de nutrientes, devido ao seu estilo de vida. Tal como 64,5% dos jovens inquiridos, que denotam efeitos positivos após a ingestão dos comprimidos, Pedro nota diferenças e acredita que, se deixar de os tomar, é possível que o corpo se ressinta.

Os dados mais preocupantes

Adelaide Oliva Telles acredita que os 17 anos – a idade do início deste consumo – é uma idade demasiado precoce para que os jovens se sintam “stressados”. Trabalho, boa alimentação, exercício físico e tempo de lazer acabam sempre por ser as melhores opções, na opinião da psicóloga.

Físico vs intelectual

Este estudo adianta também que são os estudantes quem prefere desenvolver as suas capacidades intelectuais e que, por isso, tomam fármacos para melhorar a sua concentração. Os comprimidos para dormir são, por sua vez, principalmente consumidos por jovens que trabalhem em locais de grande pressão psicológica. Já os jovens trabalhadores são os que mais se preocupam com a sua imagem corporal e que, por isso, tomam comprimidos para emagrecer ou aumentar a massa corporal.

Soraia Carvalho tem 20 anos e acredita, tal como Adelaide Telles, que estes medicamentos não produzem grandes efeitos. “Há pessoas que acreditam que sim”, por isso tudo se trata de uma questão psicológica.

Para além disso, Soraia acredita que são as farmácias e ervanárias que acabam por ganhar com este negócio, visto que o suplemento que toma “é bem caro”. Adelaide Telles acaba por ter a mesma opinião, achando que a publicidade nos apresenta estes medicamentos como soluções fáceis com resultados garantidos.

A estudante confessa que acaba por preferir os produtos naturais para combater a ansiedade e para se sentir mais relaxada. De qualquer forma, é a mãe que acaba por insistir que Soraia consuma este tipo de suplementos, principalmente em épocas de exame, mas não de forma a que o corpo se habitue demasiado a estas substâncias.

A preferência pelos produtos naturais

Em declarações ao jornal Público, Noémia Lopes, socióloga e coordenadora do estudo do ISCTE, reconheceu que parece ser cada vez mais habitual recorrer-se a produtos naturais – um setor com pouca regulação -, em detrimento de medicamentos tradicionais.

Quer sejam produtos naturais, quer sejam os habituais medicamentos, Adelaide Telles acredita que, por serem fáceis de adquirir sem necessidade de prescrição médica, é possível que o consumo destas substâncias aumente – um cenário que considera preocupante.