Andrea Pirlo, jogador da Juventus e da seleção italiana, sempre foi um modelo para Bruno. Cresceu a vê-lo jogar, a admirá-lo, e a persistência no sonho deu-lhe agora possibilidade de o defrontar. Bruno Fernandes tem 19 anos e cumpre o segundo ano como profissional de futebol.

Há pouco mais de dois anos, Bruno Fernandes jogava com a camisola axadrezada nos escalões jovens do Boavista, até que um dia um empresário o viu jogar. “O meu empresário atual foi ver-me jogar e gostou de mim. Ele trabalhava muito com os scoutings das outras equipas e houve um olheiro do Novara que veio cá. Eles queriam um jogador jovem para o escalão de juniores, para ver se conseguiam desenvolvê-lo”, conta.

Começou nos juniores do Novara, da série B, rapidamente subiu à equipa principal e a Udinese, clube conhecido por apostar em jogadores jovens, detetou o seu talento e hoje o jovem pisa os principais relvados italianos. A sua estreia no primeiro escalão foi contra o colosso Inter de Milão. “Esse jogo marcou-me especialmente, porque os jogadores do Inter deram-me todos os parabéns. Estava no chão, triste e irritado por ter perdido e vieram ter comigo jogadores como o Rolando, que há alguns anos via na televisão a jogar pelo Porto e pela seleção nacional”.

Em Portugal, o futebol é rei e o sonho de ser futebolista preenche o imaginário de milhares de jovens. Contudo, o caminho para a profissionalização é difícil. Os salários não garantem a independência financeira e, cada vez mais, o sonho passa a soletrar-se em diferentes línguas. “Foi mais seguro ir para Itália, porque em Portugal as equipas B ainda estavam muito verdes e, como nem estava na Primeira Liga, foi a melhor coisa a fazer”, explica Bruno Fernandes.

O voleibol longe das manchetes

Em Itália encontrou um país apaixonado não só pelo futebol, mas pelo desporto em geral. “Há mais amor por parte das pessoas e por parte da sociedade, que se preocupa mais com os jogadores e as famílias”. Uma realidade que Alexandre Ferreira também conhece. “Aqui, o voleibol não é considerado o desporto rei, mas a diferença para o futebol é muito pouca. A dedicação, o nível e também o dinheiro são outros”, assegura.

Alexandre vai no seu segundo ano enquanto voleibolista do Trentino e reconhece que em Portugal era impossível fazer-se profissional. Teve de tomar a difícil decisão: “Houve um momento da minha vida em que decidi verdadeiramente assumir que o voleibol era o meu objetivo, a minha vida, e que para jogar teria de estar fora”.

Fora de portas, encontrou meios para fazer do sonho a sua vida. Por isso, é categórico acerca do futuro: “Se possível, continuar aqui”. Até porque de Portugal não chegam grandes perspetivas: “Precisamos de jogadores porque não há jogadores novos. Dois ou três, e têm dificuldades em sair de Portugal. As pessoas estão habituadas a prestar atenção a uma coisa que obtenha resultados e como o voleibol não tem muitos, as pessoas não ligam”, conta.

Desportista: ser ou não ser?

As modalidades atravessam um período difícil que coloca em causa a sua sustentabilidade financeira. Miguel Maria teme também pelo basquetebol: “Portugal tem muito talento, mas os portugueses que trabalham para o basquetebol português não aproveitam o talento que o jogador português tem e é uma pena”.

Para quem parte, nem sempre o destino é de fácil adaptação. Chegar a um novo clube com o rótulo de estrangeiro exige mais responsabilidades. “Quando és um jogador estrangeiro, se as coisas correm mal podem-te mandar embora. Normalmente são jogadores mais caros e exigem mais deles porque os foram buscar ao estrangeiro”, explica Miguel Maria, que cumpre o primeiro ano na equipa de basquetebol francesa Nanterre.

A dura realidade do desporto adaptado

Pedro Bártolo sentiu na pele uma necessidade diferente: “Em Portugal, sofremos de um grande mal no desporto adaptado. Vincula-se-lhe o efeito exclusivo de reabilitação e de terapia e como complemento terapêutico”, diz.

Cumpre o seu primeiro ano como profissional de basquetebol adaptado na equipa do Mideba Extremadura. Cá não encontrou a possibilidade de competir ao mais alto nível: “Tens nas equipas pessoas com expetativas muito dissonantes. Uns, como eu, querem profissionalizar-se e dar o salto e outras só lá estão para se divertirem, e ainda há outros que encaram como fisioterapia, só”.

O sonho da profissionalização ficou reduzido a uma oportunidade: “Em primeiro lugar, tive de aceitar que nos primeiros anos vai ser uma vida a viver com as despesas à justa, porque as modalidades desportivas, fora o futebol, não têm muito poder financeiro. Um jogador de basquetebol adaptado, para atingir um nível de vida confortável, precisa de jogar bastantes anos ao mais alto nível”, afirma.

Em comum, a vida destes quatro jovens teve um momento: o de fazer as malas e seguir rumo ao sonho. Pelo caminho, ficaram as rotinas e o conforto. A casa e os mais próximos ficaram longe. Um sacrifício necessário. “Abdicas de muita coisa mas ganhas muita coisa. Abdicas da tua família e amigos, de rotinas que tinhas que não tens mais quando estás fora, mas ganhas tantas coisas boas que nem pensas naquilo de que perdeste”, confessa o basquetebolista Miguel Maria. Para o futuro, a certeza é uma: o sonho não encontra fronteiras.