Valter Ribeiro e Miguel Cunha fazem todas as provas do Campeonato Mundial de Ralis (WRC) e à custa disso viajam por todo o planeta. “Não vamos de férias”, diz Valter, engenheiro de motores da M-Sport, empresa inglesa que coloca a Ford no mapa da modalidade. “O tempo livre que temos desde que chegamos a um sítio até irmos novamente embora é mesmo muito pouco”, acrescenta Miguel, chefe dos mecânicos da mesma equipa.

Rotinas em prova

Durante o rali, enquanto os carros estão em prova nas classificativas, a equipa “segue os carros por GPS, para saber onde o carro está, se está parado, se está com o capot aberto… Estamos constantemente em contacto com os pilotos”, diz Valter Ribeiro. Quando chega ao final da classificativa, o piloto “liga para o engenheiro de chassis e dá o feedback do que aconteceu, do que sentiu e do que não sentiu. Está-se sempre a trabalhar na afinação do carro para ver aquilo que se pode melhorar nas segundas passagens”. Em termos de relação profissional com os pilotos, Valter diz que o ex-piloto de Formula 1 Robert Kubica “dá um feedback impressionante” sobre o comportamento do carro. Já Miguel Cunha recorda-se que “era muito difícil lidar” com Colin McRae. “Um dos piores e mais difíceis com quem trabalhar. Tinha uma condução muito complicada”.

Não é fácil ser membro de uma equipa de topo. Para além das exigências do trabalho, há a componente de “estar fora do país, fora da família”. No entanto, a recompensa acaba por ser grande: “Estou a trabalhar com aquilo que mais evoluído se faz a nível de ralis e velocidade”, acrescenta Valter Ribeiro, que chegou à M-Sport em 2010.

Já Miguel Cunha é um veterano na equipa. Está na M-Sport desde 2000, depois de ter estado à experiência durante duas semanas. “Era para ser professor de Educação Física”, mas acabou numa equipa de ralis. Em Portugal, “estava a fazer um trabalho para preencher um bocado o tempo e surgiu a oportunidade”. Já teve possibilidade de ir para a Formula 1, mas recusou por amor aos ralis: “não é sempre no mesmo sítio, como nos circuitos”.

André Lavadinho tem um trabalho diferente, mas criou a sua própria equipa de topo: a agência @t World, que cobre todas as provas do WRC e do Europeu (ERC), bem como de outras provas de automobilismo. É contratado pelos mais variados setores deste mundo, como “equipas oficiais, privadas, organizações e revistas”, por exemplo.

O pai era fotógrafo profissional. André foi a todos os eventos nacionais desde os 4 anos, e lançou-se internacionalmente em 2007. “Ainda não me mentalizei que estou a construir algo mesmo grande. Parece um sonho, mas é um sonho que dá muito trabalho”, acrescenta. Durante as provas, “é impossível ver algo para além da máquina fotográfica, mapas e computador”.

Relação amigável com os pilotos

“Nenhum é vedeta, todos são excecionais quando os conhecemos bem”, assegura André. Prova disso é Mikko Hirvonen. O piloto finlandês da Ford é imediatamente referido por Valter e Miguel quando feita uma pergunta sobre brincadeiras de equipa. Ou “muda ferramentas de sítio”, ou faz algo ainda mais elaborado: uma vez “fez várias coisas nos nossos carros de dia-a-dia, durante a noite. Quando acordámos tivemos de os arranjar antes de sair. Depois ele disse que foi ele”, lembra Miguel.

Ainda assim, normalmente tem “sempre uma tarde” para visitas, e conta com o apoio da namorada, que vai “à maioria dos eventos”, diz André. Todos os locais “têm algo de especial”, mas “Jordânia, México e Dubai” estão no topo de preferências do fotógrafo.

Para além de partilharem equipa, Valter Ribeiro e Miguel Cunha têm as mesmas preferências no que concerne a locais: “Austrália e Nova Zelândia” são os preferidos dos dois. Em termos de ralis, Valter faz referência à Finlândia, o “país dos ralis”, onde as pessoas “vibram muito e vivem muito” o desporto. “É marcante”, assegura. Miguel Cunha diz que o público português se faz notar pela “quuantidade”, e Lavadinho responde “Portugal, sem dúvida” quando perguntado sobre onde encontrar o melhor público.

“Andar sempre em stress e no redline” é o normal para quem anda neste mundo, frisa André Lavadinho. “Não são umas férias pelo mundo como muita gente me diz”, acrescenta. “Muita gente pensa que esta vida são só flores mas não é assim”, conclui Valter Ribeiro.