As minas terrestres:

Parte 1: Meio século para a liberdade
Parte 2: “Há muitas realidades em Angola que não são do conhecimento do mundo”
Parte 3: HALO Trust celebra 25 anos a salvar vidas
Parte 4: Campanha mundial para a desminagem tem assinatura portuguesa

Entre os principais responsáveis por donativos à desminagem em Angola, destacam-se o Departamento de Estado Americano, a União Europeia, o Governo da Finlândia e, por fim, o Japão, que, desde 1999, apoia vários projetos comunitários contra minas, incluindo assistência às vítimas e educação sobre o risco. O Governo japonês foi, inclusive, responsável pelo último donativo conhecido, a 26 de março, no valor aproximado de 370 mil euros, que contraria a tendência atual de redução dos apoios ao combate das minas. O objetivo: a desminagem do município de Luchazes, na província de Moxico, de modo a criar condições de vida mais seguras aos 5.500 moradores.

“Nunca recebemos qualquer apoio de Portugal”

Analisando os milhões de minas espalhadas pelo país, “o número de minas colocadas no período colonial é insignificante em comparação com o que foi colocado durante o período pós-colonial”, explica José Pedro Costa, um dos responsáveis do programa de desminagem da HALO Trust Angola, atribuindo às tropas portuguesas “um pequeno número de minas colocadas antes de 1975, principalmente ao longo da fronteira leste com as Repúblicas do Congo e Zâmbia, para impedir que os movimentos de libertação circulassem de e para Angola”.

Doze anos após o final da Guerra Civil, “até agora, nunca recebemos qualquer apoio de Portugal. A HALO Trust contactou, em 2009 e 2010, a embaixada de Portugal em Angola para solicitar fundos. Fomos informados que Portugal nunca teve qualquer orçamento alocado para este trabalho em Angola”, afirma Zeca.

Na desminagem, todo o tostão importa

O primeiro auxílio português no processo de desminagem em Angola ocorreu no início do mês de março. A Agência Moon Lisboa foi responsável pelo primeiro filme promocional à luta da HALO Trust, a maior ONG do mundo dedicada à resolução das minas terrestres.

Moçambique acompanha Angola na luta

Angola não é o único país de língua portuguesa contaminado pelas minas terrestres. Moçambique encontra-se igualmente monitorizado pela HALO Trust e, segundo o Instituto Nacional de Desminagem (IND), poderá ficar totalmente desminado até ao final do ano. Rogério Serrasqueiro nasceu em Moçambique. O realizador da campanha para a desminagem da HALO Trust destaca o “sucesso enorme na limpeza de minas e explosivos” no seu país, sendo um “motivo de felicidade”, apesar das minas “ainda estarem muito presentes”. Desde 2008, 116 pessoas foram vítimas de acidentes com minas, das quais 45 morreram e 71 ficaram feridas. Números que não incluem as ocorrências de 2013.

Em entrevista ao JPN, Maria Camacho, uma das responsáveis do projeto, explica que a iniciativa partiu da própria agência, “um bocadinho marcados por aquelas imagens nos anos 90 da princesa Diana a atravessar os campos minados”, explica.

O propósito do filme era “sensibilizar as pessoas para a necessidade de contribuírem, às vezes de forma bastante insignificantes, para ajudar estas e outras organizações”. Uma realidade com que Maria estava familiarizada devido à Moon trabalhar igualmente em Angola. “A nossa opinião é sempre de um lado de fora, não é o nosso país, não é uma realidade com que nós lidamos diariamente. Parece-me que, neste momento, a consciência do povo português em relação a esse problema não está muito aprofundada”, salienta.

A campanha, com a duração de um minuto, foi produzida pela Garage Films e trata-se do primeiro filme da HALO Trust em termos publicitários, coincidindo com o 25.º aniversário da organização. “A vida deles não é fazer anúncios, a vida deles é salvar pessoas”, refere Rogério Serrasqueiro, realizador da campanha.

“A consciência do povo português em relação a esse problema não está muito aprofundada”

A inspiração para o filme passou por “ter a consciência que este é um problema que está presente nos dias de hoje”. “Existem ainda muitos cenários pós-Guerra que ainda estão completos de destroços, engenhos explosivos por detonar”, afirma.

Uma equipa muito pequena, composta por cinco pessoas de mochilas às costas, levaram a cabo as filmagens em Cabo Verde, local que Rogério conhece bastante bem e escolhido pela sua paisagem. As crianças que colaboram na partida de futebol são nativos pré-selecionados. “Estou certo de que o filme vai correr o mundo inteiro, é esse o objetivo, sensibilizar toda a gente e conseguir que os donativos aconteçam e tornem possível esta ação”, conclui Rogério.