Depois do Mundial de futebol de 1938, em França, iniciou-se a II Guerra Mundial, que decorreu entre 1939 e 1945, motivo suficiente para impedir a realização das edições de 1942 e 1946. Em 1950, e já com alguns anos de distância, a FIFA quis retomar a competição. A Europa ainda sentia as repercussões do conflito e não tinha condições para receber a edição. A entidade soberana do futebol mundial optou, então, pelo Brasil.

A seleção da casa iria tentar o seu primeiro título mundial e contava com uma equipa muito forte, com os nomes de Zizinho, Ademir, Jair, Juvenal e Bigode à cabeça, treinada pelo mítico Flávio Costa. Para além destes nomes sonantes tinha um país inteiro do seu lado, louco por futebol e preparado para ser o verdadeiro 12.º jogador.

A Copa das poules

A competição voltou a mudar a sua forma. Desta feita, em vez do estilo “mata-mata”, o torneio teve o seguinte molde: três grupos de quatro equipas e um grupo de três (Escócia e Turquia desistiram antes do sorteio e a França entrou a convite da FIFA), em que ficaria apurado o vencedor de cada grupo. Após isso formar-se-ia um grupo de, novamente, quatro equipas, que jogariam todas entre si. No final, a equipa com mais pontos seria a campeã do mundo.

O Brasil, colocado no grupo A, entrou bem e goleou o México no primeiro jogo por 4-0. Era o tónico para um bom percurso, mas um revés no segundo jogo quase inviabilizou a passagem da “canarinha” à segunda fase, com um empate a duas bolas com a Suíça a oferecer à Jugoslávia a liderança do grupo com quatro pontos, que havia registado duas vitórias, sobre México e Suíça (cada vitória valia dois pontos, na altura).

Na última jornada, o confronto entre o Brasil e a Jugoslávia assumia contornos decisivos. O empate dava a passagem aos europeus e causava o choque em terras do samba. Mas o susto passou: o Brasil cumpriu e venceu por 2-0. As esperanças renasciam.

Ao “escrete” juntaram-se Suécia, Espanha e Uruguai. No grupo B, os espanhóis, na sua segunda participação, superaram um grupo composto pelos Estados Unidos, Inglaterra e Chile, vencendo os três jogos, com Basora e a lenda “roja” Telmo Zarra a dividirem o protagonismo na hora de marcar.

Os suecos estavam inseridos no grupo C apenas com mais duas equipas, já que a Índia desistiu no decorrer da competição. Venceram o primeiro jogo por 3-2 frente aos bicampeões do mundo, Itália, e frente ao Paraguai alcançaram um empate, 2-2. A Itália venceu o Paraguai no terceiro jogo do grupo e os nórdicos garantiram a passagem à segunda fase de grupos.

A seleção do Uruguai foi a que se apurou com maior facilidade para o grupo final. No grupo de, inicialmente, três equipas, apenas defrontou e venceu a Bolívia (a França desistiu), por expressivos 8-0. Os “charrúas” voltavam a estar entre os favoritos à vitória final.

O minuto 79 no Maracanã

Um dos marcos da segunda fase de grupos foi o pendor ofensivo do Brasil. Quando seria expectável ver um maior equilíbrio entre as equipas, a equipa da casa “brindou” as congéneres da Suécia e da Espanha com goleadas de 7-1 e 6-1, respetivamente. Ademir, avançado “canarinho”, obteve um poker frente aos suecos, que viria a ajudá-lo a ser o melhor marcador da competição, com oito golos.

O Uruguai empatou com a Espanha no início da fase final (2-2). Na segunda jornada, venceu a Suécia por 3-2, num emocionante jogo de parada e resposta, com o terceiro golo a surgir a cinco minutos dos 90. O jogo de todas as decisões ficava marcado para o último dia de competição, 16 de julho de 1950, no Rio de Janeiro.

Duzentas mil pessoas sobrelotaram o Estádio do Maracanã. Ao Brasil bastava o empate para se sagrar campeão do Mundo pela primeira vez. As expectativas não podiam estar mais elevadasw e o público “carioca” acreditava que era possível ver a sua seleção levantar a Taça Jules Rimet. O intervalo da final chegou com um nulo, mas logo aos 47 minutos, Friaça colocou os anfitriões na frente. Parecia somente a confirmação de um fim anunciado do Uruguai. Mas a “celeste” não baixou os braços e empatou aos 66, por Schiaffino. E ao minuto 79, o Maracanã registou o momento mais traumático da história do futebol brasileiro: Ghiggia marcou pelo Uruguai. A pressão dos brasileiros foi intensa até final, mas inconsequente.

O Uruguai levantava a Taça pela segunda vez. As lágrimas dos brasileiros foram acompanhadas de festa “charrúa”, a festa do “bi”. Um fantasma nasceu nesse dia no Brasil. Fantasma esse que os brasileiros não querem ver regressar em 2014, mas a vontade dos uruguaios é mesmo repetir o “golpe de teatro” de 1950.

O onze tipo do Uruguai: