Em 1954, a FIFA comemorou o seu 50.º aniversário. Para assinalar a data, a organização achou por bem aproximar a maior competição do desporto rei da sua sede. Assim, coube à Suíça receber a quinta edição do Campeonato do Mundo.

Aos anfitriões, juntou-se automaticamente a Seleção campeã em título, a do Uruguai. As restantes 14 vagas foram discutidas na qualificação, e, no final, foram ocupadas por onze equipas europeias, duas americanas e uma asiática.

A competição disputou-se em moldes ligeiramente diferentes do habitual. Dividas em quatro grupos de quatro equipas, as seleções participantes apenas fariam dois jogos na fase de grupos. Em caso de igualdade pontual entre o segundo e o terceiro classificado, seria disputado um jogo entre as seleções em questão. Outra novidade foi a introdução de tempo extra nos jogos da fase de grupos, caso se registasse um empate ao fim de 90 minutos. Se aos 120 a igualdade subsistisse, então seria declarado um empate.

Distribuída por seis estádios, em seis cidades distintas, a fase de grupos iniciou-se a 16 de junho. Hungria e Brasil destacaram-se com goleadas. Os húngaros, liderados por Puskás e Kocsis (que viria a sagrar-se melhor marcador do torneio), eram campeões olímpicos e dos principais favoritos à vitória no Mundial. De salientar o empate a quatro bolas entre Inglaterra e Bélgica, mesmo após o tempo extra ter sido jogado.

No decorrer da primeira fase, a Hungria assumiu-se como principal candidata. Apesar das boas prestações de Brasil e Uruguai, os “Magiares Mágicos” tinham um modelo de jogo demolidor, e cilindraram a seleção da República Federal da Alemanha (RFA) por 8-3. Os húngaros não eram só eram temíveis perante adversários teoricamente mais fracos como o eram frente a equipas de maior valia.

Assim, fecharam-se os grupos com oito equipas apuradas para os quartos de final: Brasil e Jugoslávia no grupo 1, Hungria e RFA no grupo 2, Uruguai e Áustria no grupo 3 e Inglaterra e Suíça. A RFA e a Suíça apuraram-se depois de vencerem o play-off com Turquia (7-2) e Itália (4-1), respetivamente.

Mundial multirrecordista

O Mundial de 1954 ficou marcado pelo estabelecimento de vários recordes que ainda hoje perduram: o de maior média de golos marcados por jogo (5,38); o de melhor ataque numa competição (Hungria, com 27); o de campeão com mais golos sofridos (RFA, 14); mais golos num só jogo (Áustria 7-5 Suíça); Maior goleada da história dos Campeonatos do Mundo (Hungria 9-0 Coreia do Sul), entre outros.

Na fase a eliminar, os “pratos fortes” foram servidos em Berna, com o Brasil – Hungria e em Genebra, com o Jugoslávia – RFA. A Hungria “despachou” os brasileiros marcando quatro golos e sofrendo dois. A RFA começou a tonar a sua candidatura à final em caso sério, vencendo a Jugoslávia com dois golos sem resposta. Os campeões em título Uruguai repetiram o resultado do Brasil – Hungria, e bateram a Inglaterra. No jogo mais emotivo dos “quartos”, a Áustria venceu a Suíça por “loucos” 7-5.

As meias finais ditaram um confronto interessantíssimo entre os favoritos à vitória final Hungria e os ainda campeões Uruguai. O jogo chegou aos 90 minutos empatado a dois. No tempo extra, Kocsis bisou e garantiu o passaporte dos “Magiares” para a final do Mundial. No outro jogo, quando se esperava uma eliminatória equilibrada entre alemães e austríacos, a RFA passou os “vizinhos” a ferro, com seis golos marcados, contrapostos apenas por um golo.

Estava agendado para Berna um reencontro: depois da fase de grupos, Hungria e RFA voltariam a defrontar-se para decidir o novo dono da Taça Jules Rimet. No jogo de atribuição de terceiro e quarto lugar, o Uruguai não conseguiu levar de vencida a Áustria. Os europeus venceram por 3-1 em Zurique.

Era chagada a hora da decisão final. A Hungria era claramente favorita em Berna. A RFA procurava defender a sua honra, depois do 8-3 na fase de grupos. Os 60 mil espectadores no estádio contavam com a visão de Puskás a levantar o troféu, mas o destino ditaria algo diferente. Depois de uma entrada fortíssima dos húngaros, que chegaram aos dois golos de vantagem, por Puskás aos seis minutos e Czibor aos 8, a RFA não baixou as armas e empatou aos 10′ e aos 18′, por Morlock e Rahn. O empate subsistiu até aos 84 minutos, quando o mesmo Rahn fez o terceiro dos alemães. A surpresa estava consumada, com o 3-2 final a sorrir aos germânicos.

A República Federal da Alemanha chegava ao seu primeiro título mundial. Uma vitória inesperada sobre os poderosos húngaros dava à turma de Sepp Herberger uma vitória histórica, vitória que ficou conhecida como o “Milagre de Berna”. Do outro lado, a Hungria desperdiçava uma oportunidade única, a de ganhar algo com uma geração de ouro liderada por Kocsis e Puskás. Para a RFA, o apito final do árbitro inglês William Ling, foi só o início de uma dinastia.