O bebé, pequeno e inocente, busca os braços seguros e firmes da mãe que formarão o seu colo. É a procura do conforto, da segurança, da razão. Para Rodrigo Sarmento de Beires, também é assim a procura da fé. É neste quadro maternal que gosta de pintar a sua crença. A mãe, pela segurança e firmeza, é a sua fé. O filho que se entrega ao colo é ele.

Mas, ao contrário do bebé que se entrega totalmente no regaço da mãe sem saber porquê, Rodrigo fala-nos de uma “livre dependência”: “Optamos por ter uma fé, optamos por nos atirarmos para o colo”. Rodrigo escolheu uma vida de fé ligada à Igreja Católica Apostólica Romana. É, do seu jeito, católico. Do seu jeito, porque, para ele, católico é-se de várias formas. “O que é ser católico? É uma pergunta para a qual não tenho resposta e considero que não haja uma resposta, porque são várias as formas de ser católico”, explica.

Para Rodrigo, cada uma dessas formas é uma missão. Cada crente com a sua. Para si, tudo depende da maneira como vê a própria crença: “É uma religião de alegria, não de tristeza. Há muito aquela imagem de ir para a igreja rezar, chorar e lamentar-se. Eu acho que isso é uma ideia muito errada, o cristão deve ser uma pessoa alegre e deve transmitir essa alegria. Cristo não veio espalhar sofrimento, veio espalhar alegria”.

A importância do outro

Ver alegria na palavra e ensinamentos de Cristo e vivê-la como sua alegria; como cristão, viver à semelhança de Cristo. Rodrigo define a importância do exemplo. Ir além das palavras, chegar aos atos. “Vivo muito com esse espírito de serviço, até pelo exemplo que sigo de Cristo, que era um espírito de absoluta entrega e sacrifício pelos outros. No fim acaba por não ser um sacrifício, porque, por mais que dêmos muito, acabamos por receber muito mais”.

Receber dos outros. Os outros. Segundo Rodrigo, é este o cerne do ser cristão: “Ser para os outros”. Agir para os outros e estar ao seu serviço. Para ele, essa é também a missão dos mais novos: “É como pôr a vontade pessoal de parte e ligar mais aos outros. Eu costumo dizer: ‘Ter o nosso umbigo na testa do outro’. É essa a missão essencial dos jovens”. Missão que nem sempre é cumprida na plenitude. O homem é, por vezes, falível. “Temos os nossos interesses pessoais e é difícil pôr os interesses dos outros à frente dos nossos, principalmente alguns outros”.

Afastamento da fé

Dos que falham, muitos não voltam a tentar. Existem outros ainda que vivem sem estar ligados à fé. Os jovens vão-se afastando da igreja. Por “falta de conhecimento e falta de curiosidade”, diz Rodrigo. Vê, por isso, a disciplina de Educação Moral e Religiosa como uma possível solução: “Há muita falta de noção sobre o que é cada coisa e há muitos conceitos errados e era importante esclarecer desde cedo. Acho que era essencial, mas devia ser mais informativa do que uma imposição. Depois cada um procurará o que achar que faz mais sentido para ele”.

Fé e razão

A possível presença da fé no campo que habitualmente é da razão faz emergir a questão do seu relacionamento. Para Rodrigo, “não há conflito absolutamente nenhum”. “É um pouco a história se a ciência e a religião são inimigas. Não as considero inimigas, porque não respondem à mesma pergunta. A ciência procura responder como as coisas acontecem, a religião respondem para quê e porquê. Têm a ganhar uma com a outra”, afirma.

E não só de outras áreas do conhecimento, podem vir contributos para o aprofundamento da fé. “As religiões não são necessariamente opostas, têm muito para dar umas às outras. Na minha opinião, a única perspetiva errada é a que pretende ser a única. Há visões muito interessantes noutras religiões em que eu até concordo e me revejo”, considera.

Para Rodrigo, não há vida sem fé. Nos seus diálogos com Deus, as respostas vão chegando. “É claro que não obtenho respostas de alta voz, mas obtenho as minhas respostas, às vezes por vias travessas. Há quem pense que são coincidências, mas se calhar são outras coisas”. Num mundo de perguntas, Rodrigo vive uma vida de certezas.