Os sapatos que ficam pelo chão não são dos mais jovens. Há interesse, mas não uma adesão em massa. O compromisso de entrega e continuidade não é assumido. Tashi Pereira diz-nos que existem “mais jovens adultos, por volta dos 20 e tal, porque já têm a liberdade e autonomia para o fazer”. Para Tashi, o afastamento é consequência de um problema maior: uma crise espiritual assente em crenças essencialmente materialistas: “Toda a economia está orientada para os prazeres momentâneos e para o que é descartável. Tudo está direcionado para a compra e venda. É muito difícil fugir do padrão, muito mais para um jovem”.

Os pés de Tashi pisam, habitualmente, este chão. Vem para refletir e viver a sua . Apesar de muitos olharem o budismo como uma filosofia, para ela é algo mais: “O Budismo é uma religião. Ponto final”. A vivência de algumas práticas budistas não significa uma vivência da fé. “Se quiser falar de alguns aspetos do budismo vai entrar em processos que são mais metafísicos, que vão para além do que é tangível”.

Um percurso tardio

A busca pela transcendência de Tashi começou desde cedo: “Eu comecei desde muito nova a sentir que faltava alguma coisa, que não podia ser só isto”. Na Internet descobriu alguns cursos dados por uma monge budista e, desde há três anos, descobriu o seu caminho. Um caminho despoletado pela dúvida e vivido para a dúvida: “Há respostas, mas o próprio Buda diz que não se aceite nada sem o questionar e tomar por seu primeiro. Um budista tem um espírito crítico”. A figura de Buda está presente na vida budista, mas não é uma divindade. Apenas um exemplo a seguir.

“Ele decidiu que queria atingir a iluminação e não parou até conseguir. Quando atingiu a iluminação não se contentou com isso e quis ensinar aos outros o caminho”. Do exemplo de Buda vem o valor central do budismo: a compaixão. “É pensar no bem-estar de todos antes de pensar no próprio bem-estar. Não prejudicar os outros em nada e tentar eliminar o sofrimento. Os budistas creem que todas as pessoas sofrem, mesmo quando são felizes”, diz Tashi.

Mantra, karma e nirvana: palavras cada vez mais comuns

O fim do sofrimento é o nirvana. Este estado final de libertação marca o fim do ciclo morte-nascimento-sofrimento, uma das crenças basilares dos budistas. Tal só é possível através da meditação, a base prática do budismo. “A meditação permite-nos fazer uma pausa, esquecer o passado e o futuro e dar uma folga. Estarmos em pensamento constante”. Outra parte importante da prática budista são os mantras, que Tashi classifica como “pequenos post-it que te fazem agir e avançar. Que te lembram o que tu és”. Os mantras são pequenos poemas ou textos com ensinamentos para a vida.

Mantra, nirvana, karma são palavras que entraram no vernáculo dos portugueses, mas a maior parte das vezes são usadas sem conhecimento do sentido filosófico e religioso. “Não conhecem e não fazem a mínima ideia do que estão a dizer. Mesmo as pessoas que praticam só sabem o significado intelectual”, diz Tashi.

Por muitos caminhos que se percorram, alguns dos segredos que as portas guardam permanecerão assim: segredos. “A ciência explica o ‘como’ de tudo e pode vir a explicar o ‘como’ de muita coisa, mas os ‘porquês’ a ciência nunca vai conseguir explicar”. Para Tashi, o caminho da procura vale mais do que as repostas e, no seu, a porta está sempre aberta.