Pessoas com casa, carro, contas para pagar e que ficam sem emprego. É este um dos fenómenos que cada vez mais abala Portugal. Há 11 anos atrás, também José de Almeida estava nesta situação, mas decidiu não ficar de braços cruzados. Atualmente, é um dos criadores da Ideias e Desafios, um projeto que ajuda não só empresas, como também desempregados.

“Nós somos muito bons a dar formação. Por que não reconverter as pessoas, dando-lhes algumas ferramentas, por forma a fazê-las reentrar no mercado de trabalho?”. Foi a partir desta interrogação que, em 2009, José, juntamente com os outros membros da equipa, idealizou o “Mover Portugal”, um workshop que ajuda desempregados a dar o empurrão de que precisam.

Tudo começou no próprio escritório da empresa onde a equipa reunia grupos de 15 pessoas. Mas a ideia foi crescendo e, hoje, já com uma lista de espera, o projeto soma edições atrás de edições. “Já passámos a barreira das cem pessoas num workshop e, agora, na última edição, tivemos cerca de 270″, relembra José.

Ao longo de três dias e de uma forma gratuita, os participantes têm a oportunidade de conhecer várias temáticas. Desde as ferramentas de comunicação e influência à importância da motivação e da confiança, “Mover Portugal” é um workshop “muito interativo e intenso”.

Embora não garanta aquilo que as pessoas mais querem – um emprego -, José acredita que o workshop traz algo que também é muito importante: a motivação. “Os participantes entram na sexta de manhã e saem no domingo à noite. No final do dia, não parecem as mesmas pessoas. Todo o processo acaba por ser muito libertador. Acabam por perceber que é possível pensar fora da caixa”, conta.

Quanto às pessoas que frequentam o workshop, José diz que “há de tudo”. Desde a pessoa com o quarto ano à pessoa com uma pós-graduação e um doutoramento. Todas procuram dar um novo rumo à sua vida.

E, normalmente, há dois caminhos neste processo. Enquanto que os mais jovens acabam por se reinserir no mercado de trabalho, os mais velhos enveredam pelo empreendedorismo. “Há muitas pessoas que se conhecem no workshop, juntam-se e criam um negócio”, refere José.

“Mover Portugal”: Próximas edições

A próxima edição do workshop “Mover Portugal” ainda não tem data marcada. José de Almeida, um dos responsáveis pelo projeto, admite que o próximo poderá ser no Porto, mas que ainda estão à procura de apoios para a sua realização. Para além da Invicta, o workshop já passou por Lisboa e Faro.

Casos de sucesso

Marco Almeida tem 42 anos e foi em junho do ano passado que participou numa edição do “Mover Portugal”. Formado em Eletrónica, Marco sempre trabalhou na área técnica de empresas. Acabou por perder o emprego e, na altura do workshop, já estava desempregado há cerca de dez meses.

As tentativas para arranjar um novo trabalho eram muitas, a começar pelo envio de currículos. “Cheguei a enviar cerca de 40 a 50 por mês”, recorda. Naquela altura, Marco não tinha grandes expectativas sobre aquilo que ia acontecer no workshop, também por já ter participado em mais de cem horas de formação gratuita durante o tempo livre que tinha.

O workshop acabou por ser uma verdadeira lufada de ar fresco e Marco começou mesmo a sentir diferenças. Surgiram algumas oportunidades para trabalhar naquela que era a sua área e, dois meses depois, estava empregado.

Ainda hoje acredita que muitas das coisas se deveram ao que aprendeu com o workshop. “Passamos muito tempo a fazer as coisas da mesma maneira. Apresentamo-nos da mesma maneira, escrevemos o currículo da mesma forma. Às vezes, mudar um parágrafo pode fazer a diferença”, afirma.

Também na faixa etária dos 40 se encontra Célia Rodrigues. Também ela esteve desempregada durante nove meses e também muitos foram os currículos que enviou. Antes do workshop, Célia desempenhava funções numa fábrica de produção de CDs. Decidiu participar, porque, uma vez que tinha tempo livre, “queria aprender mais e ganhar outros conhecimentos”.

“Mover Portugal” auxiliou-a na reviravolta de que precisava para a sua vida. “O workshop fez-me perceber que se eu não acreditar em mim, quem é que ia acreditar?”, questiona. Com dois colegas que também estavam desempregados, Célia apostou no seu próprio negócio. As máquinas da antiga fábrica onde trabalhava estavam à venda em leilão e assim decidiram investir em conjunto. Para além de “reabrir a própria fábrica”, a marca produz de uma forma inovadora em Portugal.

Ao olhar para trás, Célia faz um balanço muito positivo do workshop. “Notei uma autoconfiança muito maior. Foi isso que me impulsionou a lançar-me no negócio que tenho agora”, afirma.