Manhã

Os militares aceitam e fica acordado que os passos de “Grândola” seriam os passos da revolução. Faltava uma última etapa: convencer os responsáveis do “Limite” a passar a senha.

15h

Carlos Albino procura Manuel Tomáz para um café, mas o encontro acaba na Igreja de Alvalade, próximo dos escritórios do “Limite”. Ao pé dos joelhos baixados pela devoção estava o LP de “Cantigas de Maio”, de Zeca Afonso. É então que Albino desabafa: “Manel é hoje”. Chegava a hora. Sem muitas palavras percebia-se que era a liberdade que se aproximava: “Nesse dia, o Leite de Vasconcelos estava de folga e tínhamos iniciado no programa um jovem locutor, que era o Paulo Coelho. O alinhamento desse dia estava feito e eu e o Carlos Albino ponderámos várias situações sobre como, sem dar nas vistas, nós passávamos o ‘Grândola'”.

Os militares exigiam que a música fosse antecedida pela leitura da primeira quadra e que a mesma fosse repetida depois de terminar. “Imediatamente pensei que a melhor solução seria enquadrar o ‘Grândola’ numa gravação. Inventámos logo ali na altura uma rubrica de poesia, o Carlos tinha dois poemas escritos sobre várias coisas e combinámos ir até ao escritório”, conta Manuel Tomáz, que foi escolhendo algumas músicas de suporte e que encarregou de chamar Leite de Vasconcelos para a gravação.

19h – A senha passa na censura

Na Renascença, o censor libertava os textos e Leite Vasconcelos lia a senha de uma revolução que não sabia existir. Uma das primeiras palavras de marcha ficava registada numa bobine que Manuel Tomaz guardou consigo até à hora do programa: a meia-noite.

22h55 – A primeira senha

Os caminhos de João Paulo Diniz e de Otelo de Saraiva Carvalho tinham-se cruzado na Guiné. Juntos viveram um dos pesadelos do regime e, agora, cruzavam-se novamente nos caminhos da liberdade. No programa 1-8-0, da Emissores Associados de Lisboa, a voz de Paulo de Carvalho iniciava o adeus e plantava a questão do que viria depois.