Adelino Gomes soube da revolução como tantos outros. A palavra, de boca em boca, levou-o até à baixa lisboeta. Seguiu a marcha popular até ao Terreiro do Paço. O movimento militar ainda não era claro, temeu ser um golpe de um general ultra do regime, até que encontrou um amigo que o encorajou a falar com o capitão do movimento. O capitão era Fernando Salgueiro Maia, seu velho conhecido.

Adelino tinha tido, ali, o seu 25 de abril. Impedido de estar na rádio depois de problemas com a censura, começava, naquela altura, a sua liberdade. Reconheceu companheiros do jornal “República”, que lhe emprestaram o gravador e microfone e começou a fazer reportagem da revolução. Gravou mais de sete horas e as bobines multiplicavam-se. Ainda assim, foi a reportagem mais fácil da sua vida: “Bastava-me estar a relatar o que se passava, porque o resultado era sempre bom, era aquilo de que eu gostava. Eu não precisava de acrescentar nada, de pôr um adjetivo!”.

João Paulo Guerra foi outro dos jornalistas presentes nas ruas lisboetas. Ele e Adelino Gomes tinham sido proibidos de exercer jornalismo na rádio, pelo que, no dia 25, trabalhava para o jornal “Notícias da Amadora.” Guiou o seu percurso pela rádio e lembra-se das caras com que falou: “Falei com o Capitão Salgueiro Maia e com alguns outros homens da sua coluna. Falei com alguns dos militares, que vieram posteriormente a render-se. Estive na Guarda Republicana e no Quartel do Carmo, onde estava refugiado o professor Marcelo Caetano”.

Nos dias 26 e 27, João Paulo Guerra ajudou Adelino Gomes com a edição das horas de reportagem realizadas no dia da revolução. As quase quatro horas de material editado foram para o ar, mas a emissão acabou interrompida: “Começou a transmitir, passado um bocado interromperam a transmissão, porque as pessoas pensaram que era um contragolpe e a administração da Rádio Renascença acabou por suspender a transmissão das reportagens”. As reportagens acabariam editadas num disco de vinil, numa versão muito mais curta, de pouco mais de 50 minutos.

A rádio foi o veículo da liberdade e os locutores e jornalistas a voz da confirmação. Para Adelino Gomes, jornalismo e liberdade “deve ser um casamento para a vida”. Já João Paulo Guerra guarda uma frase de Salgueiro Maia: “A República ganhou-se através do telégrafo, o 25 de abril ganhou-se através da rádio”. A liberdade, abstrata, usou um meio que não se vê para chegar aonde antes não se conseguira chegar. A liberdade estava no ar e todos a sintonizaram.