Já passaram 450 anos desde o nascimento do dramaturgo mais famoso do mundo, William Shakespeare. Estima-se que nasceu em abril de 1564 e, hoje em dia, são muitos os ingleses que usam expressões suas sem o saberem.

“Shakespeare é ubíquo, está em toda a parte, e não precisa de muita publicidade”. É nisto que acredita Nuno Pinto Ribeiro, professor de Literatura Inglesa na Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP). Atualmente, faz parte de um grupo sediado na faculdade que se dedica à tradução de obras dramáticas de William Shakespeare. Já foram traduzidas e editadas 16 peças, mas o objetivo ainda está longe de ser concluído. “Só acabamos daqui a três ou quatro anos”.

Falar em Shakespeare já não é simónimo de literatura. “As suas obras oferecem-nos um painel muito vasto e, por vezes, surpreendente das possiblidades de existência do ser humano”. Nuno garante que a adesão a Shakespeare, por parte dos alunos, acontece com facilidade e que “muitos se entregam apaixonadamente ao seu estudo e vão dispensando explicações e anotações, num clássico que, à primeira vista, suscita alguma reserva do público mais jovem”.

Por outro lado, defende que a maior parte dos que conhecem o autor devem-no ao palco e à televisão. “Basta percorrer as páginas dos jornais, portugueses ou estrangeiros, para vermos que ele está sempre presente. Neste momento, há muitas peças nos palcos europeus de Shakespeare, e, portanto, trata-se de um evento permanente que ultrapassa a celebração localizada”.

“Shakespeare é um valor permanente”

Simão do Vale contribui para este fenómeno. Dirigiu “Gertrude“, nome da mãe de um dos heróis mais falados da história de Shakespeare. Esta adaptação centra-se na relação de Hamlet com a sua “mãe poluída” e, até ao momento, é o único espetáculo do dramaturgo na mão de Simão. No entanto, o também ator já vestiu o papel em duas outras peças de Shakespeare: “A Fera Amansada” e “Muito Barulho por Nada”.

Enquanto que Nuno está convicto do paralelismo que aproxima o autor e a atualidade, Simão adota um prisma um pouco diferente. “Se esse paralelismo existisse realmente, não teríamos o infortúnio de nos cruzarmos com tantos assassinatos das obras de Shakespeare. Por exemplo, há pouco tempo deparei-me com um programa de um espetáculo que introduzia uma peça de Shakespeare como “A sua obra política”. Ora, pergunto-me qual não será.”.

Para Nuno Ribeiro, em todos os géneros de Shakespeare há motivos para encontrar o paralelismo entre as gerações. “O amor e o ciúme, a traição e a intriga, o poder e a manipulação, tudo isto está presente nas peças de Shakespeare. Haverá sempre motivos que impelem o ser humano a agir desta ou daquela forma”.

Para o professor, um dos maiores mistérios de Shakespeare é perceber como é que, hoje em dia, é preciso tanta atenção para perceber os seus textos, “se antes até o público mais popular compreendia só de ouvido”. Apesar da previsão ser difícil, acredita que daqui a mais 450 anos o autor continuará a ser “um valor permanente”. Já o encenador compara a estrutura narrativa do autor à de uma telenovela. “Perdoem-me a comparação, as narrações paralelas e a conjunção de personagens ‘clownescos’ e ‘dramáticos’ dão uma vivacidade muito única às peças”.

Simão do Vale ganhou o bichinho a Shakespeare. Para este ano, está agendada a reposição de “Gertrude” em Viseu, no Teatro Viriato, e em Coimbra, no Teatro Académico Gil Vicente. Em várias partes do mundo arrancam dois anos de comemorações, já que 2016 celebra também 400 anos da morte do autor. Preveem-se conferências, procissões e o projeto editorial The Hogarth Shakespeare, da Hogarth Press, que pretende publicar uma série de romances que irão recontar as peças de William Shakespeare.