No estudo “A Sexualidade dos Jovens Universitários Portugueses”, de Natália Pacheco e Henrique Pereira, os investigadores concluíram que existe um duplo padrão que distingue homens e mulheres, nomeadamente a nível das expectativas. De acordo com Henrique Pereira, as raparigas tendem, ao mesmo tempo, a “procurar uma relação privilegiada que termine em casamento” e a “concretização profissional antes de concretização amorosa”, ao passo que, no caso dos rapazes, se dá a “instrumentalização do sexo” por não valorizarem tanto a relação. “Temos uma sociedade machista” em que as mulheres ainda são vistas como puras e virgens e os homens, mais permissivos e violentos. O caráter conservador da sociedade portuguesa no que toca ao sexo, garante Henrique Pereira, imprime nos jovens crenças erradas.

Ao contrário do que poderia pensar-se, todo este conservadorismo não previne comportamentos de risco, muito pelo contrário. Contudo, não é irresponsabilidade mas falta de informação que interfere com a sexualidade dos jovens. Segundo o investigador, estes “estão pouco informados” no que toca ao sexo, especialmente sobre os métodos contraceptivos.

Algumas pessoas “acham que a pílula protege contra o HIV”. Além da falta de conhecimento, é a fonte de informação que mais preocupa Henrique Pereira. Os jovens preferem recorrer à Internet e aos amigos em busca de informação, quase certamente errada ou incompleta, que devia ser dada pelos pais e centros de saúde. “Há falta de comunicação com os pais”, sublinha. Com a criação de noções erradas sobre a sexualidade “está-se a criar risco”.

Henrique Pereira defende ainda que “quanto mais informado um jovem está, mais vai atrasar a sua primeira relação”, porque está mais atento, mais responsável, enquanto “os jovens que mais se expõem aos riscos são aqueles que começam mais cedo”. Rosa Maria Assunção, médica do Gabinete de Saúde Juvenil do Porto, discorda e afirma que os jovens que visitam o consultório “são muito informados”, “sabem para o que vêm” e estão dispostos a “falar sobre tudo”.

90% dos rapazes veem pornografia, mas só metade das raparigas

A banalização do ato sexual no cinema, na música e nos meios de comunicação é massiva nos dias que correm. Segundo Henrique Pereira “os Mass Media criam modelos que os jovens imitam e que não correspondem à realidade”. Apesar de o hábito de ver pornografia ser, por muitos, considerado saudável “não é o modelo ideal de sexo”. A importância do sexo na vida amorosa e emocional dos jovens está a ser continuamente diminuída, tornando-se mais numa “instrumentalização da pessoa” do que “parte integrante no projeto de vida”, o que, a longo prazo, condiciona o futuro sexual e emocional dos jovens.

Planeamento familiar e sexualidade? O IPJ ajuda

O Instituto Português do Desporto e da Juventude (IPDJ) oferece, em gabinetes por todo o país, consultas gratuitas de sexualidade, contraceção e planeamento familiar. Nos consultórios e “espaços jovem”, é garantida a confidencialidade das consultas.

Rosa Maria Assunção, médica no Gabinete de Saúde Juvenil do Porto diz que são muitos os jovens a recorrer às consultas. “Aparecem por tudo”, garante, mas o fundamental é “informá-los dos comportamentos de risco, da contraceção”, uma vez que o excesso de informação, muitas vezes falaciosa, tende a criar dúvidas. Os jovens que procuram este tipo de consultas gratuitas são cada vez mais novos “porque é um espaço que lhes garante confidencialidade”, uma vez que tendem a ter vergonha de tirar dúvidas com familiares.

Para além das consultas, o IPJ abriu a linha o serviço Sexualidade em linha quem desde 2008, pretende esclarecer e orientar os jovens em termos de saúde sexual e reprodutiva.

* A fonte de informação para a realização da infografia foi o estudo sobre a Saúde Sexual e Reprodutiva dos Estudantes do Ensino Superior da Aventura Social, com dados nacionais de 2010. Da amostra da investiga constam 3278 estudantes universitários entre os 18 e os 35 anos.