A Baixa do Porto contou com acrescida azáfama desde o início da tarde desta quarta-feira, 7 de maio. Estudantes trajados a rigor iam transportando instrumentos musicais, equipamento de som e até elementos do cenário para que tudo estivesse pronto às 20h30. Não havia tempo a perder, já que a iniciativa de organizar este encontro de tunas sem vertente competitiva surgira há apenas uma semana.

Com cerca de 900 lugares sentados, o Teatro Sá da Bandeira revelou-se pequeno para tamanha adesão à iniciativa. Dois dias antes do evento estavam já vendidos 800 bilhetes, o que levou a organização do Cartolas a reservar os restantes 100 ingressos para vender à entrada. Já o relógio marcava 20h35 e a fila ainda se alongava pela rua. Contudo, ninguém parecia importar-se: já havia sido divulgado que, mesmo que não fosse possível adquirir entrada, as tunas participantes viriam ao exterior tocar para o muito público que ali se aglomerava.

Os Jograis do Orfeão Universitário do Porto (OUP) foram os apresentadores de serviço. Com a irreverência que lhes é conhecida, não se limitaram a introduzir as tunas a palco, brindando a plateia com rábulas, poemas e apontamentos musicais “ao melhor jeito de sátira político-social”.

Cartolas, bengalas e insígnias de todas as cores foram orgulhosamente exibidas

As tunas organizadoras iam desfilando com fluidez pelo palco, apresentando quatro temas cada. Coube à Tuna TS abrir o certame, seguindo-se a Tuna da Universidade Católica do Porto. O alinhamento do espetáculo ficou depois com as atuações da Tuna Académica da Universidade Portucalense, da Tuna de Engenharia da Universidade do Porto (TEUP), da Tuna Feminina do OUP, da Tuna Académica do ISEP, da Tuna Académica de Biomédicas e da Tuna Universitária do Porto. Esta última é também grupo integrante do OUP e a mais antiga que a cidade do Porto conhece, com origens a remontar ao século XIX.

Cartolas, bengalas e insígnias de todas as cores foram orgulhosamente exibidas, embelezando a festa dentro e fora da sala. Este verdadeiro arco-íris contrastou com os tons predominantes de amarelo que pintaram a noite poucos metros a Leste, em Passos Manuel, no XXVII FITA.

Todavia, chegou directamente do Coliseu uma boa surpresa para quem ficou à porta do “Cartolas”: muitos elementos das Tunas de Direito, Economia e Medicina da Universidade do Porto desceram até ao TSB. De forma espontânea, juntaram as suas vozes às serenatas de rua, em comunhão com a intenção previamente manifestada na página oficial do encontro: “Oferecer a todos os estudantes do Porto, e em especial aos finalistas, um espectáculo a primar pela qualidade musical e pelo mais genuíno espírito de entrega”.

Dentro da sala, o certame viria a terminar em apoteose, com o público a sobrepor-se à Tuna Universitária do Porto aquando da interpretação dos “Amores de Estudante”. Este tema, composto pelos antigos orfeonistas Aureliano da Fonseca e Paulo Pombo, pertence já ao imaginário dos portugueses como “o hino de todos os estudantes”.

“O 25 de Abril das Tunas”

Emilie Pinho, estudante de Enfermagem na Escola Superior de Enfermagem do Porto (ESEP), afirmou-se “muito satisfeita” por ter assitido ao Cartolas e garantiu não ter faltado “diversão”. Espera agora que o evento “se volte a fazer para o ano, e por muitos anos, porque teve sentimento académico e muita qualidade musical”.

Luís Pinho da Costa, estudante da Faculdade de Economia da Universidade do Porto (FEP), preferiu marcar presença no Teatro em detrimento de apoiar a tuna da sua Faculdade no concurso a decorrer no Coliseu. “A qualidade expectável do Cartolas era superior à do FITA, ao qual tive o prazer de assistir em edições anteriores”, justificou. “Em algumas atuações, ficou vincado uma espécie de espírito de 25 de Abril das Tunas. Talvez se tenham deixado influenciar pela celebração dos 40 anos sobre a data”, gracejou.

Da parte da organização, os sorrisos rasgados espelhavam a satisfação com o desenrolar do Cartolas. Quando questionados sobre a motivação para, em tão poucos dias, fazer acontecer um evento que exigiu uma grande logística, o Presidente do Orfeão, Filipe Rocha, foi o primeiro a usar da palavra: “Era mesmo necessário. Era necessário festejar com os nossos Finalistas, com os Finalistas da Academia – todos eles!”.

Diogo Aires, o responsável máximo pela Tuna Académica de Biomédicas não tardou em corroborar: “Pode haver mais iniciativas [para além do FITA] no sentido de as Tunas se encontrarem e festejarem a Queima das Fitas. Pode até haver cinco festivais no mesmo dia, todos com o mesmo propósito”, sublinhou.

Da parte da Tuna da Universidade Católica, Filipe Oliveira acrescentou: “Todos nós temos finalistas nas nossas casas e todos eles merecem ter a oportunidade de ver as pessoas que gostam e as tunas que gostam a atuar”. Diogo Aires fez questão ainda de “agradecer a um dos mais fantásticos públicos” para o qual teve “o privilégio” de atuar.