Peregrino é aquele que viaja para um lugar santo, por devoção ou promessa. Albino Campos tem 50 anos e é natural da cidade da Maia. Este é o quarto ano que faz a peregrinação para Fátima, a pé, por promessa. “No primeiro ano que fui a pé, fui com um grupo de 52 pessoas. Marcou-me, porque foi a primeira vez, mas soube logo que aquilo não era para mim”. A partir daí, Albino decidiu ser um caminhante solitário. “Gosto de ter o meu próprio ritmo e sinto-me melhor comigo mesmo, o espírito de sacrifício é maior”.

Na mochila, leva tudo o que precisa e, na cidade de que é natural, deixa a esposa, o filho e o emprego. “É isto que me recarrega as baterias para o resto do ano. Ao viajar sozinho tenho tempo para mim e para pensar”. Apesar de viajar sozinho, Albino confessa que a jornada se revela muito enriquecedora: “Como caminho sozinho, falo com toda a gente que passa por mim. Conheço pessoas de todos os sítios e idades, que trazem sempre histórias agarradas a elas. É isso que me enche o coração”.

Albino prepara a viagem com antecedência, através da informação que encontra online. O projeto “Rota do Peregrino“, criado em 2011, é um dos guias mais utilizado por aqueles que caminham. Luís Albano é um dos três promotores e conta que a Rota foi uma ideia que surgiu em 2006, quando a equipa sentiu “que existia a necessidade de haver informação organizada para os peregrinos”. Hoje, após três anos, as dicas preparadas pelo site são utilizadas por 90% dos peregrinos que se dirigem para o Santuário de Fátima.

Depois do site, o livro

Após a criação do site, surge, em 2012, o livro “Rota do Peregrino de Fátima”, um guia com informação compilada e com páginas em branco para escrita das experiências do próprio peregrino. Em 2013 são disponibilizadas as aplicações móveis, que funcionam em modo offline. “O objetivo, com estes três conteúdos, é que os peregrinos usem o nosso site para preparar a viagem: o livro como ferramenta de companhia e as aplicações como mapa e guia offline” conta Luís.

A nível internacional, 125 mil visitantes de 85 países diferentes marcam cerca de 30% das visitas ao site. Para tornar a ideia realidade, Luís conta que a equipa fez “um levantamento no terreno”, percorreu todos os caminhos, “para tentar perceber onde é que as pessoas podiam comer, dormir, receber cuidados médicos, comprar medicamentos, etc.”.

“Não pensam nos peregrinos que viajam à noite”

No terreno são muitas as entidades que apoiam os peregrinos em vários pontos do mapa: Cruz Vermelha Portuguesa, Bombeiros, Corpo Nacional de Escutas, Centros Paroquiais, Voluntários da Ordem de Malta e Movimento da Mensagem de Fátima. Aí, os peregrinos recebem cuidados médicos, snacks, bebidas, medicamentos, alojamento e incentivo para continuarem a jornada até Fátima.

Albino sabe que o apoio é essencial, mas confessa que há uma lacuna no apoio aos peregrinos noturnos. “Não pensam nos peregrinos que viajam à noite. A Cruz Vermelha e a Ordem de Malta fecham durante a noite e muitos ficam sem apoio. As entidades não se podem esquecer de que há imensa gente que caminha à noite. Apesar de ser escuro, há menos trânsito, menos calor e acaba por ser mais seguro percorrer as estradas principais”.

A chegada a Fátima, o objetivo daqueles que caminham, fica marcada por uma “sensação inexplicável”, confessa Albino. “Quando vou a Fátima de carro não sinto o mesmo. É algo realmente inexplicável, tão bom que acaba por ser viciante”.

Movidos por decisões, vontades ou fé, são muitos os que vão assistir, na noite desta segunda-feira, à Procissão das Velas, com o coração cheio de uma “sensação inexplicável”.