A ação dos diferentes agentes da informação e a influência dos mesmos na perceção do público lançam inúmeras questões que obrigam a uma reflexão ética sobre alguns dos procedimentos. “O spin doctoring em Portugal: estudo sobre as fontes profissionais de informação que operam na Assembleia da República” é o nome da tese de doutoramento desenvolvida por Vasco Ribeiro, professor da Universidade do Porto que se debruçou precisamente sobre o tema e que foi apresentada esta segunda-feira, em Braga.

“A relação do jornalismo com a política é uma relação que pode variar entre a simbiose e o conflito. A minha experiência como assessor de imprensa diz-me que o jornalista procura, acima de tudo, preocupar-se com o leitor ou com o telespectador. A promiscuidade, se existir, existe como se fosse no ramo médico, na polícia, na engenharia…”, explica Vasco Ribeiro, para quem o jornalismo português se coloca à margem destas relações conflituosas.

Perceber as origens da informação política determinou o mote da tese de doutoramento – compreender a atuação dos spin doctors em Portugal. O spin doctor é o profissional de relações públicas ligado à Comunicação Política que, normalmente, é responsável pela distribuição e controlo da informação.

Estes profissionais são muitas vezes acusados de práticas pouco recomendáveis mas um dos pontos principais foi a desmistificação da mentira: “A mentira não é a principal técnica de spin doctoring. Foi unânime: quer políticos, quer assessores de imprensa, quer editores não atribuem a mentira como uma técnica de spin doctoring ou de assessoria de imprensa política”.

Jornalistas têm livre-trânsito nos corredores do Parlamento

O estudo de Vasco Ribeiro demonstra que o spin doctoring não é uma prática exercida nos gabinetes da Assembleia da República. A impermeabilidade dos jornalistas apresenta-se como uma razão para um paradigma baseado numa relação de respeito e cordialidade: “O facto dos jornalistas na Assembleia da República poderem circular livremente e poderem confrontar diretamente os políticos com as perguntas sobre o spinning que vai sendo induzido pelos assessores de imprensa dificulta essa ação”, diz.

A Assembleia da República é, no nosso país, o berço da informação política e o documento pretende ser uma ferramenta útil para a transparência da informação e do respeito mútuo entre os profissionais da informação: “Este trabalho pode ajudar o jornalismo a compreender melhor e blindar-se à atuação e manipulação do spin doctoring que é, em alguns casos, legítimo porque pretende impor alguns assuntos na ordem do dia”.

Até porque das mais de 30 entrevistas a editores de política, assessores de imprensa e políticos, entre os quais José Sócrates e Santana Lopes, ficou uma certeza: “O spin doctoring, a ser exercido, é pelos políticos e não pelos assessores de imprensa”. Além das entrevistas realizadas aos agentes de informação, o estudo tem também uma componente de recolha e análise de notícias e artigos de opinião política.

Uma reflexão sobre o determinante papel da circulação e interpretação da informação que demonstra as relações entre pares e também entre diferentes agentes de informação. Cada um com a sua função para garantir que, no fim, a cidadania saia vencedora: “Se o jornalismo for melhor, melhor será a opinião pública e melhor é qualidade democrática do país e, por arrasto, serão melhores os políticos que governam o país”, afirma.

A tese foi orientada pelo docente do Departamento de Ciências da Comunicação da Universidade do Minho Joaquim Fidalgo e o júri, além do orientador, integrou Manuel Pinto, Felisbela Lopes, Teresa Ruão (todos do Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade), Rogério Santos (Universidade Católica) e Estrela Serrano (da Universidade Nova de Lisboa). A presidência coube a Helena Sousa, em representação do reitor do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa.