Próximo das eleições europeias, cresce o debate em torno do papel de Portugal na Europa. Saúde, educação, demografia ou proteção social foram os temas colocados em discussão por Maria João Valente Rosa, diretora do portal PORDATA no espaço Atmosfera m.

“Portugal é um país pequeno, nunca se pode esperar muito de nós”, é a primeira ideia errada que aponta Maria João, quando comparamos o país aos restantes da União Europeia. No entanto, Portugal é o 11.º país mais populoso da UE, com uma população próxima da Bélgica e o dobro dos habitantes da Dinamarca.

Entre os indicadores referidos pela professora Maria João Rosa esteve a – tão aclamada por partidos e governos – taxa de mortalidade infantil. O indicador é muitas vezes utilizado como bandeira da melhoria do Serviço Nacional de Saúde (SNS) e sinal claro da evolução do país. De facto, nos últimos 50 anos, Portugal assistiu a uma queda drástica da mortalidade entre as crianças e posiciona-se agora nos 3,4 por mil, abaixo da média europeia (3,8 por mil) e de países como o Reino Unido, a França ou a Holanda.

“Morrer anjinho era uma sorte, ia para o céu direitinho”

Entre os presentes na audiência uma médica pediatra de 71 anos falou da mortalidade infantil na década de 60. Contou que, muitas vezes, ouvia passar funerais na rua. “Eu ia à janela e via um caixão pequenino, e os meninos vestidos de batinha branca, todos contentes porque nesse dia não havia escola”. No funeral, contou a pediatra, só ia o padre e um estandarte: “A família não ia ao funeral porque morrer anjinho era uma sorte, ia para o céu direitinho”. “Era a mentalidade da altura”, esclareceu.

A taxa de atividade, no que diz respeito à empregabilidade, é outro dos indicadores em que o país se destaca. Portugal tem uma taxa de atividade total de 60,2%, enquanto a média europeia se fica nos 57,6%. Apesar de nem tudo ser mau, existem alguns dados que continuam a ser “preocupantes”. 66 é o nível de produtividade por hora em Portugal, num índice de 100. Há países que atingem o dobro da produtividade, inclusive nos que se trabalham menos horas.

“Somos dos países que mais horas trabalham e dos que menos produz por hora”, salienta a estatística, acrescentando que “a baixa qualificação tem efeitos diretos na produtividade”. Os números mostram que, em Portugal, 70% dos trabalhadores por conta própria não completaram o ensino secundário. “Dizem que Portugal é um país de doutores e engenheiros, mas isso não é verdade”, acrescenta Maria João.

Educação no centro do debate

A diretora do PORDATA não deixou de fazer referência à educação, nomeadamente ao abandono escolar. Aqui Portugal destaca-se pela negativa, sendo o terceiro país da Europa com a situação mais grave. Na opinião de Maria João Rosa, esta situação é o reflexo de alguns problemas estruturais do ensino em Portugal, sendo um deles o excesso de “chumbos” ou, como são formalmente designados, as retenções.

“Em Portugal temos a tendência de achar que os chumbos são sinónimo da exigência dos professores e do sistema de ensino, mas é o contrário”, explica a estatística, dando como exemplo países como a Finlândia, onde nem existem retenções. O excesso de alunos por turma e a falta de acompanhamento ao estudo foram outras questões levantadas no espaço de tertúlia por alguns professores presentes na audiência.

Problemas na educação refletem-se invariavelmente nos níveis de formação e qualificação profissional da população ativa. Neste campo, Portugal está mesmo no fundo da União. A estatística mostra que apenas 40% da população entre os 25 e os 64 anos tem níveis de formação iguais ou superiores ao ensino secundário, valor que se situa muito aquém dos 75,2% que representam a média europeia.

Para a demógrafa, a educação tem um papel imprescindível no combate à abstenção que, nas eleições marcadas para o próximo domingo, dia 25, se prevê que atinja valores superiores a 60%. “Há aqui um problema de mentalidade” que “não é possível mudar por decreto”, explica Maria João.

Depois de um resumo de “Retrato de Portugal na Europa“, a diretora do PORDATA salientou que “não há um único número que sintetize Portugal”. É um país “muito complexo, em alguns casos muito completo e noutros incompleto”. Os dados estão disponíveis na íntegra no e-book criado pelo portal da Fundação Francisco Manuel dos Santos e pode ser consultado gratuitamente.