O que é que mais urge fazer no projeto europeu? Ainda é possível resgatar a Europa?

Sair da crise é o mais urgente. Nós propomos um plano em três pontos essenciais: uma conferência de devedores e credores, para resolver o problema da dívida soberana, para geri-lo de uma forma sustentável durante, pelo menos, uma geração, para que ele não volte a assombrar tão cedo o crescimento e a integração europeia. Um mecanismo europeu de estabilidade inteiramente comunitarizado para impedir que os juros voltem a disparar. Quando digo inteiramente comunitarizado significa: que não esteja como está agora o mecanismo europeu de estabilidade, nas mãos dos estados-membros mais poderosos.

“Há muitos subsídios europeus que são demasiado complexos e chegam de formas demasiado indiretas aos jovens”

Em terceiro lugar, o projeto Ulisses, um programa de recuperação e reconversão das economias do sul e das periferias, com projetos específicos que podem ser múltiplos: desde a agricultura sustentável, ao turismo de qualidade e à fixação de cérebros com universidades da União. Isso é o mais urgente. Mas, em paralelo, o que devemos fazer também é um enorme esforço de democratização da União Europeia, porque a União não precisa só sair da crise, precisa de sair da crise tendo uma ideia de futuro, uma visão de futuro para si mesma, e essa é a outra metade que falta.

É eurodeputado desde 2009, e agora concorre como cabeça de lista do Livre. O que é que pode levar a Bruxelas que ainda não tenha levado?

Falta muita coisa. Houve muita coisa que foi feita no domínio do direitos fundamentais, no domínio das leis de emigração, dos refugiados, houve muitos projetos-piloto que foram aprovados, desde a recuperação de vítimas de tortura, a integração em meio urbano de refugiados, incluindo mulheres e crianças vítimas de violência sexual, e a construção de esforços de convergência dentro do Parlamento Europeu, como é o Left Caucus, um fórum de deputados progressistas. ´

Num segundo mandato no Parlamento Europeu, quero absolutamente prosseguir o caminho do projeto Ulisses, que neste momento é uma agenda já muito bem defendida em termos conceptuais e teóricos. É preciso passar à legislação. Quero também avançar com um relatório de iniciativa no domínio das universidades da União, ou seja, convencer a União Europeia de que fazer universidades da União é uma ideia boa para o futuro da União Europeia.

No programa do Livre falam em Educação para todos: pública, gratuita e universal e em garantir a mobilidade jovem na União.
Tem mais medidas em mente para o ensino, em particular o Ensino Superior?

“A União precisa de sair da crise tendo uma ideia de futuro, uma visão de futuro para si mesma, e essa é a outra metade que falta”

Nós propomos que a União passe a ter Universidades da União, inspiradas no modelo das Universidades Federais Brasileiras, que nos últimos anos têm sido construídas principalmente nas zonas desfavorecidas do país. Criar universidades da União no sul, nas periferias, nas zonas que estão a perder jovens e que estão a perder cérebros e que têm condições absolutamente fenomenais como regiões de acolhimento de estudantes de toda a Europa e de todo o mundo para poderem fazer aí não só um ano do curso, mas para fazer o curso inteiro e aí se fixarem como investigadores, como empresários, como pessoas que tragam capacitação para as economias locais.

E quanto ao desemprego jovem, que cada vez mais afeta os jovens europeus, particularmente os portugueses, quais são as propostas?

A Garantia Jovem tem sido agora avançada e foi aprovada durante este mandato, eu votei a favor. Mas está muito pouco financiada, só tem seis mil milhões de euros, precisa de se aumentar vigorosamente este fundo para a Garantia Jovem. Propomos também que se crie um Programa Europeu de Voluntários para o Desenvolvimento, em que os jovens possam trabalhar no resto do mundo em projetos financiados pela União Europeia e propomos também que exista uma espécie de apoio de início de vida para os jovens europeus. Nós contabilizamos isto e não é muito caro. Infelizmente, a Europa não é, neste momento, um continente muito jovem, o que quer dizer que as gerações que atingem os 18, os 25 ou os 30 anos não são numericamente muito grandes, e é possível apoiá-las a que iniciem um projeto de vida, individual ou coletivamente. Há muitos subsídios europeus que são demasiado complexos e chegam de formas demasiado indiretas aos jovens, é importante que cheguem de uma forma mais direta. Isso também cria cidadania e identidade europeia, as pessoas sabem que aquilo é o cheque da União Europeia que lhes foi dado, que lhes permitiu comprar o primeiro computador ou montar a primeira empresa. Esse é um projeto que precisa de trabalho, precisa de reflexão e precisa de convencimento, mas eu acho que é para aí que a União se deve dirigir.

O que é um resultado positivo para o Livre na noite de 25 de maio?

É um resultado que mostre a Portugal no dia seguinte que a política mudou, que este partido está aqui para ficar e que elegerá para o Parlamento Europeu e que, mesmo não elegendo para o Parlamento Europeu, tem excelentes perspectivas de eleger para a Assembleia da República, sozinho ou em convergência com outros partidos.