Como é que avalia o peso da investigação científica e da inovação no debate partidário nestas eleições europeias?

Num mundo muito turbulento e numa Europa em transformação, há espaço para alguns consensos e eu creio que este é um desses casos. Todos concordamos que é necessário construir uma Europa do conhecimento, da inovação e do empreendedorismo. As sociedades modernas não podem viver sem uma aposta no futuro.

“O que antes era a divisão de trabalho tradicional, separando empresas e universidades, já não faz sentido”

Vivemos numa Europa a duas velocidades, o que também se verifica na capacidade de inovação. No caso de Portugal, o atraso em relação a outros países nesta matéria aumentou ao descer um lugar este ano no ranking europeu. O que é preciso para descentralizar esta Europa?

“Confunde-se inovação com ciência”

José Manuel Leceta admite que há boas universidades e bons investigadores, mas que ainda assim estamos muito atrasados em relação aos EUA em termos de inovação. O diretor do EIT (Instituto Europeu da Inovação e Tecnologia) esteve na Reitoria da Universidade do Porto para explicar o tem sido feito e o que está nos planos do instituto para os próximos anos. O objetivo? Fortalecer aquilo a que chama de “triângulo do conhecimento”, aproximando as universidades, os centros de investigação e as empresas. Para isso, explica, é preciso “repensar a forma de ensinar” e não resumir a “agenda de inovação das universidades às incubadoras”.

Eu quero ser otimista. Não há nada que demonstre que um país tenha menos talento ou valor do que o outro. Ninguém tem o monopólio e Portugal é um país com todas as condições para avançar se apostar nos jovens. É isto que nos tem que animar. A universidade do Porto é muito boa e há muita gente com vontade de fazer coisas. Querer é poder ou, melhor dizendo, querer é criar.

A Universidade do Porto é um dos maiores centros de produção científica a nível nacional, mas a maior parte destes investigadores não são absorvidos pelas empresas e indústrias. O problema está no lado das empresas ou no próprio ensino superior que precisa de ser reformado?

Creio que aqui há um problema de mentalidade. O que antes era a divisão de trabalho tradicional, separando empresas e universidades, já não faz sentido. A universidade, mais do que matéria, deve ensinar atitudes. Quem vence, como dizia Steve Jobs, é aquele que aposta de forma mais sustentável. O momento é difícil mas temos que encarar isto como uma oportunidade de repensar as coisas. Temos que animar os jovens e não há melhor sítio do que a universidade para o fazer.


Fala-se hoje numa maior ligação às empresas. O caminho é no sentido de canalizar a maioria do financiamento para a investigação aplicada ou ainda há espaço para a investigação fundamental?

Este é um grande debate e supõe que as pessoas se focam numa área e não se movem para outras. Recordo-me de um professor meu que dizia que a investigação útil é aquela que é boa. E pode ser boa tanto para avançar a fronteira do conhecimento como para ter impacto na sociedade.

“Recordo-me de um professor meu que dizia que a investigação útil é aquela que é boa”

Este ano houve muitos cortes no financiamento de projetos e em bolsas de investigação. Que soluções podem os investigadores procurar?

Uma educação para o empreendedorismo. Não quero dizer qual deveria ser a percentagem de apoios públicos e privados, mas considero que é importante manter uma parte dos apoios ativos, modernizar a oferta educativa e apostar na mobilidade. Este é um país de navegantes e sempre esteve muito aberto ao mundo, por isso, eu seguiria esta linha de pensamento: se não se encontram oportunidades aqui, o melhor é sair.