Walter Alvarez justifica-se: antes das viagens de exploração e da época dos descobrimentos portugueses pensava-se que o Oceano Índico era um lago. “Os portugueses mostraram que se podia contornar a costa africana por via marítima. Todos os mapas baseados em Ptolomeu estavam errados. A ciência moderna começou aqui, neste país, com os descobrimentos”.

Com as navegações também se assistiu a uma revolução científica, onde se desenvolveram novas técnicas e instrumentos. Deu-se a evolução das naus e a invenção do astrolábio.

O homem que revolucionou o mundo científico

O artigo de Alvarez sobre a última extinção em massa na Terra foi apresentado em 1980, perante a resistência da comunidade científica. O embate de um meteorito, diziam, teria de ter deixado marcas visíveis na crosta terrestre. Passados 11 anos, durante explorações submarinas para a pesquisa de petróleo, a prova apareceu no Golfo do México. Feitas as análises, tudo se comprovava: a cratera tinha 65 milhões de anos e coincidia com as previsões de Alvarez.

De acordo com o cientista americano, “os gregos sabiam a teoria matemática toda, estudavam e conheciam muita coisa, mas aplicar teorias em alto mar é diferente, é uma questão de sobrevivência”. Os portugueses fizeram-no com o contributo de Pedro Nunes, um dos maiores matemáticos portugueses até à data. “Calculou como se navegava em alto mar, num oceano profundo e desconhecido, o Atlântico. O Mediterrâneo era fácil, ninguém se perdia lá. Só Ulisses é que andou por lá 20 anos”.

Segundo o cientista, Portugal beneficiou de ter conquistado o Algarve aos árabes, em 1492. Espanha e o resto da Europa estavam demasiado preocupados em batalhas fronteiriças. Os portugueses, “como não tinham nada para fazer”, decidiram avançar para as explorações. “Nós, em ciência, não aceitamos o que nos dizem, vamos e vemos como é que é. Foi isso que os navegadores portugueses fizeram”.

Antes de dar a conhecer ao mundo esta teoria, Alvarez explicou-a a um amigo: “Pensou que eu estava a brincar. No fim acabei por o convencer, acho eu”. Já no fim da conferência, no tempo dedicado a perguntas do público, alguém perguntou a Walter Alvarez se a comunidade científica aceitava, maioritariamente, esta perspetiva. “A resposta mais honesta é não. Mas espero que vocês passem a palavra”.

A “Big History” de Walter Alvarez

Atualmente, o geólogo interessa-se pela Grande História, o novo campo que pretende juntar todo o conhecimento sobre o passado do nosso planeta. Em conjunto com a Microsoft Corporation, Walter Alvarez criou o site ChronoZoom. Uma plataforma onde é possível “viajar” ao longo da história do universo. Uma maneira rápida e eficiente, com uma carga visual eficaz, de conhecer as diferentes etapas de formação do universo.

Para além do estudo da influência portuguesa no começo da ciência moderna, desenvolve o conceito dos supercontinentes, que defende que a Terra se modificou lentamente ao longo de ciclos onde os continentes ora estavam dispersos, ora formavam uma única massa continental. “É excitante perceber que os continentes se mexem e nunca estão no mesmo sítio”. Mais uma vez, Alvarez via as suas perspetivas serem rejeitadas. “Ninguém aceitava, porque não sabia por que razão se mexiam. Agora aceitam, porque há provas suficientes e inegáveis, mas ainda ninguém sabe por que se movem”.

A conferência foi organizada pelo Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos (CIBIO) da Universidade do Porto. Para além de Walter Alvarez, marcou presença Henrique Leitão, historiador de ciência e professor na Universidade de Lisboa, e Nuno Ferrand de Almeida, investigador do CIBIO.

A sessão incluiu, também o lançamento da edição portuguesa do livro As Montanhas de São Francisco – À Descoberta dos Eventos Geológicos que Moldaram a Terra, um relato das investigações geológicas de Alvarez nos Apeninos italianos.