Vinte anos depois da última participação – o mítico terceiro lugar alcançado em 66, em Inglaterra -, Portugal regressou ao Campeonato do Mundo, na edição do México. Mas o regresso ficou muito aquém da brilhante prestação dos “Magriços”, em 1966.

A seleção portuguesa ficou no Grupo F, juntamente com Marrocos, Inglaterra e os terceiros classificados da edição de 82, a Polónia, e não foi além desta fase. Contou por uma vitória e duas derrotas os três jogos realizados e desiludiu.

No grupo A ficaram a Argentina, a Itália, campeã em título, a Bulgária e a Coreia do Sul, progredindo a Argentina (cinco pontos), Itália (quatro pontos) e a Bulgária, como uma das melhores terceiras (dois pontos). Do grupo B seguiram em frente a seleção anfitriã – o México (cinco pontos) -, o Paraguai (quatro) e a Bélgica (três).

Mudança de formato

O formato do torneio mudou, relativamente à edição de 82. Se na edição da Argentina só avançavam para a segunda fase as duas melhores equipas de cada grupo e, na segunda fase, essas 12 equipas eram divididas em dois grupos, na edição de 86 progrediam os dois primeiros e os quatro melhores terceiros para os oitavos-de-final.

No grupo C ficaram União Soviética, a França, a Hungria e o Canadá e, daqui, progrediram os dois primeiros, com cinco pontos. Brasil e Espanha seguiram em frente no grupo D, com seis e quatro pontos, respetivamente, deixando de fora a Irlanda do Norte e a Argélia.

No grupo E ficaram a Dinamarca, a Alemanha Ocidental – vice-campeã da edição de 82 -, o Uruguai e a Escócia. Não progrediu para os oitavos a Escócia, sendo que as restantes três seleções seguiram em frente: a Dinamarca alcançou o primeiro lugar, com seis pontos, a Alemanha Ocidental o segundo, com três pontos, e o Uruguai passou como um dos melhores terceiros, com dois pontos.

Quando o mundo conheceu a “Onda”

O Mundial de 1986 celebrizou um movimento que ainda hoje é reproduzido nos mais variadíssimos estádios espalhados pelo mundo: a “Onda”. Se o fenómeno já era célebre nos Estados Unidos da América, o Campeonato do Mundo serviu como impulsionador para o movimento se propagar um pouco por todo o globo, devido à transmissão em direto dos jogos do torneio. Por esse motivo, a “onda” é hoje conhecida como a “Ola mexicana”.

Brilha a Argentina, desilude a Itália

Nesta edição do Campeonato do Mundo voltou a ser jogada uma fase a eliminar, após a fase de grupos. Nas edições anteriores, as seleções apuradas nessa primeira fase voltariam a jogar uma fase de grupos no formato “todos contra todos”. Foram jogados, pela primeira, uns oitavos-de-final desta competição. O grande destaque deste período da prova foi para a eliminação da campeã em título, a Itália.

Frente à França de Platini, que marcou o primeiro do encontro, a squadra azurra caiu de forma demasiado precoce e falhou o objetivo de revalidar o título. O outro destaque foi para a vitória folgada, por 5-1, da Espanha sobre a Dinamarca. Butragueño, estrela do Real Madrid, brilhou, ao assinar quatro dos cinco golos espanhóis.

Nos quartos-de-final, nova surpresa, causada pela França de Platini. Frente ao Brasil, que procurava reavivar as glórias do passado, a seleção gaulesa conseguiu ser mais eficaz nas grandes penalidades e seguiu para a fase seguinte. No entanto, o mais marcante dos jogos dos “quartos” foi outro. Inglaterra e Argentina defrontaram-se num dos jogos mais polémicos da história dos mundiais, com a vitória a sorrir para os albicelestes.

Maradona fez o golo que ficou conhecido como “A Mão de Deus”, marcado com a mão, que o árbitro do encontro não conseguiu ver. O lance perpetuou-se na história. Esse jogo seria marcado por aquele que é, para muitos, o melhor golo de sempre. Maradona, pois claro, fintou metade da equipa inglesa e voltou a carimbar o seu nome na história, desta vez fruto da genialidade.

Diego Maradona, um nome para a eternidade

Maradona é um dos jogadores que criou um autêntico legado. Quem não presta muita atenção ao mundo do futebol pode não lhe conhecer a cara, mas grande parte certamente lhe conhece o nome. É considerado por muitos como o maior jogador de todos os tempos e o Mundial de 1986 foi a sua consagração. Teve momentos absolutamente épicos, jogadas de levantar estádios e golos que jamais serão esquecidos.

Prova disso é que foi autor de um golo que ainda hoje é denominado como o “Golo do Século”, em que arranca do meio campo defensivo da Argentina, finta meia equipa inglesa – guarda-redes incluído – e remata para o fundo das redes.

Ainda nesse jogo foi autor de outro momento que ainda hoje é recordado pelos amantes do futebol: a tão célebre “Mão de Deus”, que valeu a vitória da Argentina sobre a Inglaterra por 2-1, nos quartos-de-final da competição.

Nas meias-finais, a França voltava a tentar causar nova surpresa. No entanto, do outro lado estava a Alemanha Ocidental, em busca de um título que lhe fugia há vários anos. E foi mais forte, terminando o sonho dos gauleses, que se despediram com um honroso terceiro lugar, conquistado diante da Bélgica. Os belgas, por seu turno, caíram às mãos de Diego Maradona, que voltou a marcar os dois golos da seleção argentina. Estavam encontrados os dois finalistas.

Na final, a Argentina confirmou o fator “casa” e acabou por vencer por 3-2, travando a reação germânica, que recuperou de uma desvantagem de dois golos. Maradona foi considerado o melhor jogador do torneio e ficou definitivamente consagrado na história.

“O caso Saltillo”

Saltillo foi a cidade que acolheu a seleção portuguesa para o Mundial e ficou célebre por marcar uma das páginas mais negras do desporto português. A comitiva portuguesa chegou ao México já “em brasa”, depois da acusação positiva de dopagem por parte de Veloso. Os jogadores acreditavam na inocência do companheiro de equipa, mas este teve mesmo de ser substituído por Fernando Bandeirinha.

O hotel em Saltillo não era o melhor, pois não protegia a privacidade dos jogadores e o campo de treinos era numa colina, inclinado e com más condições para a prática futebolística. A questão dos patrocínios e os rumores de casos com prostitutas fizeram explodir o mau clima no seio da seleção, queixando-se os jogadores de serem obrigados a fazer publicidade para marcas ligadas à Federação, sem compensações financeiras em troca.

Alguns jogadores fizeram greves e, em alguns treinos da seleção, treinaram com as camisolas do avesso, para esconder a publicidade. Este caso levou à demissão de José Torres, selecionador da época, e, durante dez anos, Portugal esteve longe de competições internacionais, atravessando uma longa fase de reconstrução.