Há cerca de dois anos, Mila Cravinho decidiu que a sua vida passaria por ajudar os outros e, depois de seis meses de formação numa escola em Inglaterra, partiu para África, numa aventura que durou oito meses e que descreve como “uma experiência difícil, dura, mas fantástica”.

Mila Cravinho viveu longe de tudo e de todos, sem ter onde gastar os 200 dólares (145 euros) que lhe davam todos os meses. Aprendeu a viver sem água, sem luz, mas viveu rodeada de sorrisos e de uma alegria contagiante. Uma experiência que, por mais que tente, não consegue descrever por palavras.

Foi na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP) que Mila Cravinho partilhou, esta quarta-feira, a sua primeira experiência enquanto voluntária internacional, através da organização Humana People to People, que tem como objetivo lutar por causas como a discriminação da mulher e o desenvolvimento comunitário. Inicialmente, esta ação de voluntariado visava promover a instalação de kits de aprendizagem nas escolas e mostrar à população mais pobre a importância da educação dos jovens.

Mila, fundadora de clubes

As mulheres, na Zâmbia, não têm qualquer tipo de autoridade, algo que Mila Cravinho sentiu muitas vezes na pele. Por isso, juntamente com a sua equipa, fundou o Clube das Mulheres “Hope” e o Clube de Jovens “DNS Youth Club”. No clube das mulheres ensinou a bordar, a fazer fantoches e a costurar, onde acabou por ser uma espécie de relações públicas, dando a conhecer aquilo que era feito, para depois angariar parceiros com a finalidade de escoar os produtos e, assim, dar-lhes uma fonte de rendimento, dar-lhes uma papel na comunidade.

O sucesso era tal que, através de apresentações, Mila Cravinho partilhou, com outras equipas voluntárias, as suas ideias e todos os projetos que vinha desenvolvendo, para estender o desenvolvimento comunitário junto das comunidades envolventes. A Unicef foi também muito importante em todo o trabalho que desenvolveu, ao ajudar com o material didático e kits de material escolar.

“Sentir o pé no chão”

Através do programa “Fighting with the poor”, Mila Cravinho foi a primeira voluntária portuguesa recebida na Zâmbia e, com ela, foram mais três voluntários: um húngaro, um búlgaro e um inglês. Mila Cravinho tinha uma única vontade: “Sentir África verdadeiramente, sentir o pé no chão”. Formada na área da Educação, partiu com a vontade de ensinar um povo que não sabe ler e escrever e que a única destreza que conhece é o trabalho árduo num campo de cultivo.

Através do projeto “Teacher Training College” (ou “DNS Mkushi”), cujo objetivo é formar professores primários, Mila Cravinho deu aulas, coordenou práticas pedagógicas, ajudou a planear o ano letivo de 2014 e escreveu uma manual para os professores, onde partilhou as suas metodologias. Trabalhou também no projeto Child Aid NHQ, que trabalha diretamente com as crianças, com o pré-escolar, com o ensino primário e com as famílias, de forma a dar-lhes melhor qualidade de vida. Trabalhou ainda na área da Saúde, principalmente na prevenção do HIV.

Mila Cravinho regressou a Portugal em janeiro e, desde então, tem viajado pela Europa a divulgar o projeto. Depois da experiência na Zâmbia, a voluntária portuguesa está em contagem decrescente para uma nova aventura, desta vez na Namíbia, com viagem marcada para meados de agosto.