Década de 80, pós 25 de abril. O panorama radiofónico do país encontrava-se subdesenvolvido e não prometia muito. As únicas três rádios legais que existiam, a Rádio Difusão Portuguesa (RDP), a Renascença (RR) e a Comercial (RC) emitiam a partir de Lisboa: sempre as mesmas vozes, as mesmas músicas, o mesmo ambiente formal.

Em 1984, algo mudou. Deu-se o boom das chamadas Rádios Piratas. Eram rádios livres: livres de legislação, de preconceitos, de formalidades. Começou com a rádio Imprevisto, em 1977 e logo se tornou num movimento em crescimento rápido e em grande escala.

Era impossível controlar os piratas das rádios emergentes. Tomaram de assalto as frequências e conquistaram o interesse dos ouvintes. Nas palavras do antigo pirata portuense Alex FX, em entrevista à Vice, “o éter radiofónico era uma espécie de estendal de roupa onde, desde que houvesse espaço, se metia mais um trapo e uma mola”.

As estações de rádio sobrepunham-se e encolhiam-se, amontoadas em frequências de alcance e partilha desconhecidos. Consequentemente, a qualidade da transmissão não era boa, mas também não era prioridade. A receita para criar uma rádio era simples, até para amadores: um emissor, dois pratos, uma mesa de mistura – muitas vezes construídos artesanalmente pelos próprios locutores.

Perante a situação caótica da radiodifusão, o Estado interveio e legislou sobre as rádios livres, que assim deixaram de o ser, em 1989. Esta é a história do começo, da vida e do fim do movimento das Rádios Piratas em Portugal.