Jorge tem 36 anos, é Engenheiro do Ambiente e já faz voluntariado com sem-abrigo há 10 anos, quando fazia parte de um pequeno grupo de ação social que agora se chama FasRondas e já conta com cerca de 80 voluntários.

O gosto por ajudar os sem-abrigo começou aí e nunca mais escapou. Hoje é um dos fundadores da Plataforma Mais Emprego, a concretização de um sonho. Dos mais de um milhão de habitantes no Grande Porto, há mais de mil sem-abrigo. A Plataforma nasceu para isso mesmo: contornar os números.

O plano existe há nove meses e já é considerado o segundo melhor projeto de empregabilidade do Porto. Em dezembro a Assembleia da Republica reconheceu o mérito e a capacidade de “dar esperança” da Plataforma. Para Jorge, a luta não é só pelos sem-abrigo do Porto, e lança o desafio, garantindo que este modelo é “facilmente replicável noutras cidades”.

Sem-Abrigo: quem ajudar, quantos e como?

“É importante saber-se o número de pessoas de que estamos a falar”, explica Jorge Mayer. No Porto há quase mil e quatrocentas pessoas em situação de sem-abrigo. Mas os que dormem mesmo na rua são à volta de 200. Há cerca de 900 que estão a dormir em pensões. São essas pessoas com quem a Plataforma trabalha. “Nós não estamos a tirar as pessoas das ruas diretamente para as empresas”, garante Jorge. Primeiro lidam com as pessoas que estão mais próximas da autonomia e que consequentemente estão “brutalmente motivadas”. Mas os sonhos vão mais longe: “Passo a passo da rua para a empresa”, deseja Jorge.

Na Plataforma Mais Emprego, não há quem trabalhe a tempo inteiro e a maioria é voluntária. Desses, todos trabalham com o objetivo de reduzir os riscos de contratação das empresas. “O processo começa com a rede NPISA, que é composta por gestores de caso. Cada beneficiário do RSI tem um gestor de caso que sabe onde é que a pessoa está a ir comer, dormir, buscar roupa, etc.”

O gestor de caso é, então, quem sabe se a pessoa já está ao nível de agarrar uma hipótese de emprego. Sinaliza-a e apela a que essa pessoa vá a uma entrevista de triagem na plataforma. “É lá que começamos a avaliar as motivações, percurso da pessoa e até as suas potenciais dificuldades de inserção no mercado de trabalho.”, detalha Jorge.

De seguida, caso passe, a pessoa vai a uma entrevista clássica de recursos humanos e uma empresa externa faz uma avaliação completa com as competências comportamentais e profissionais do candidato. Mais tarde, é a vez de a Plataforma ir ter com o outro lado: as empresas, para compreender o que precisam. “Nós selecionamos a pessoa certa para o lugar certo”.

O prazer de se sentir pequenino

Desde que foi criada, a Plataforma Mais Emprego já empregou cinco sem-abrigo, dois dos quais estão nos albergues noturnos e três na Santa Casa da Misericórdia do Porto. Jorge admite que ainda há hesitação por parte das empresas, tendo em conta o perfil frágil dos candidatos. Ainda assim, para já o sentimento é de satisfação: “Arranjar um trabalho para estas pessoas é abrir-lhes caminhos de futuro. É muito bonito ver como as pessoas sentem isso, toca-nos e sentimo-nos pequeninos”.

Com dez anos de experiência na área dos sem-abrigo, Jorge ressalva ainda que há muito a fazer no que toca a apoios. O engenheiro considera essencial que as equipas de rua trabalhem mais em parceria. “Temos alguns sítios que têm excesso de oferta e temos outros sítios em que não há ninguém a ajudar”.

A equipa está ainda a fazer um esforço para a criação de um café noturno. “Nos estamos a fazer um esforço para que haja um espaço que esteja aberto à noite na baixa do Porto, onde os sem-abrigo possam ir e onde as próprias rondas possam comunicar umas com as outras.”