Marcelo Rebelo de Sousa foi o convidado escolhido para encerrar o ciclo de debates do Clube dos Pensadores (CdP) deste ano. A iniciativa arrancou em janeiro com Teixeira dos Santos, o ex-ministro das Finanças do Governo de José Sócrates. Outros nomes, como Carlos Barbosa (presidente da ACP), Arménio Carlos (líder da CGTP), António Capucho (ex-PSD) e Henrique Neto (ex-deputado do PS) também passaram pela Sala Régua do Hotel Holiday Inn Porto Gaia.

Depois de apresentar o orador principal, Joaquim Jorge, fundador do CdP, deu o mote para um momento musical que surpreendeu o público. Em seguida, num discurso introdutório que durou cerca de 20 minutos, Marcelo Rebelo de Sousa revelou que era sua intenção apresentar cinco temas de conversa ao público, para que este escolhesse o que mais lhe interessasse. Entre política nacional, política internacional, situação económica atual, comunicação e educação, acabou por ser o próprio comentador político a optar pela educação.

Rebelo de Sousa deu como exemplo o seu percurso de vida, para introduzir a realidade de uma educação de elites, em que o acesso ao pré-escolar e aos primeiros ciclos de ensino era desigual e “só uma minoria privilegiada entrava na universidade”. “A educação é a chave – do avanço ou do recuo – de uma nação”, refere o comentador, sublinhando, ainda assim, a importância do setor.

Marcelo Rebelo de Sousa a presidente?

Confrontado pelo público sobre a possibilidade de vir a ser candidato às presidenciais de 2015, Marcelo Rebelo de Sousa afirma que, “neste momento, não é uma questão que povoe minimamente” a sua cabeça. O comentador não exclui a hipótese de uma candidatura, mas pondera se as funções que exerce atualmente enquanto docente e líder de opinião não terão maior importância cívica. “Ser professor é uma causa, ser presidente é só um cargo”, acrescenta. Ainda sobre a questão presidencial, Rebelo de Sousa admite que antecipar três meses as eleições pode ser uma solução sensata para as distanciar das legislativas.

“Não havia juventude no tempo em que eu fui jovem”

Enquanto professor, Marcelo Rebelo de Sousa foi incisivo na importância da escola e dos docentes na formação de um jovem, não deixando, no entanto, de destacar as diferenças entre os agentes educativos que influenciaram a sua geração e dos que imperam atualmente. Nos anos 60 predominava uma educação institucionalizada mas de contacto pessoal, através “da família, da igreja católica e da escola”, paradigma distante da dependência tecnológica que hoje existe.

No topo da lista de influências encontram-se agora a Internet e a televisão, tendo a família perdido o seu papel central na definição da identidade do jovem. “A Internet molda as pessoas para a solidão”, alerta Rebelo de Sousa, contando que foi na família que definiu o seu gosto pela política, pela comunicação social e por ser professor. Desta forma, o comentador tenta justificar a maturidade tardia das gerações atuais, enfatizando que, “aos 30 anos, já tinha dois filhos, feito uma revolução, criado um jornal” e exercido várias profissões. “Não havia juventude no tempo em que eu fui jovem”, revela.

“A vida política portuguesa está muito agressiva, muito crispada”

Também a marcar a atualidade política nacional, foi discutida a candidatura de António Costa a secretário-geral do PS, que o comentador considera estar a causar uma aura de “messianismo” em torno do presidente da Câmara de Lisboa. O professor acredita que a ligação com Sócrates pode influenciar a candidatura de Costa, uma vez que “ainda não passou tempo suficiente para mudar a opinião que os portugueses tinham no momento em que [Sócrates] perdeu as legislativas”. “A vida política portuguesa está muito agressiva, muito crispada”, afirma, ainda assim, o comentador.

Ainda na política e questionado pelo público acerca dos avanços e recuos entre as propostas do Governo e as avaliações do Tribunal Constitucional, Marcelo Rebelo de Sousa defende que estes estão a dotar a vida política portuguesa de uma grande imprevisibilidade, tornando-se cada vez mais difícil tomar decisões para o futuro do país.

Interpelado por um jovem trabalhador da plateia, o professor não fugiu à temática da emigração, mas evitou uma generalização, dizendo que o estrangeiro pode ser uma boa oportunidade, mas não para todos. Rebelo de Sousa acrescenta que tudo depende das características profissionais de cada um e, por isso, não é daqueles “simplistas que dizem ‘vão todos'” mas também não é daqueles “politicamente corretos que dizem ‘fiquem'”.