Há cerca de dois meses, o presidente do Conselho de Administração do Centro Hospitalar de São João (CHSJ), António Ferreira, já tinha avisado o ministério de Paulo Macedo que a situação se tornara “insustentável”, sendo impossível tratar os doentes com qualidade. Sensivelmente um mês depois, por falta de resposta do Ministério da Saúde, António Ferreira anunciava publicamente a sua demissão.

Perante este cenário, Paulo Macedo terá procurado contornar a situação, solicitando à administração do Hospital de São João que formulasse um conjunto de propostas a ser entregue no gabinete do ministro. Até então, o centro hospitalar não terá obtido qualquer resposta.

Pizarro acusa o centralismo de Lisboa

Manuel Pizarro, vereador da Câmara Municipal do Porto e ex-secretário de Estado-adjunto da Saúde, foi um dos primeiros a reagir à notícia da demissão coletiva. Ao jornal Público, Pizarro afirmou que “a assistência médica prestada no centro hospitalar é de elevada qualidade, por todos reconhecida e é insubstituível, pelo que constitui um crime contra o país e contra o cidadãos do Norte deixar deteriorar uma unidade tão qualificada”. Para Pizarro, toda a situação espelha um “lamentável centralismo” em Lisboa.

A demissão em bloco terá resultado de uma reunião na manhã de quinta-feira, em que, perante a demissão da direção clínica e dos 31 diretores de departamento de serviço, a administração mostrou-se solidária com as suas lideranças intermédias, tendo reportado a situação à tutela.

O manifesto dirige-se às políticas do Ministério da Saúde, nomeadamente a alguns aspetos da reforma hospitalar, que prevê encerramento ou concentração de serviços nos hospitais, questão contestada pela classe médica e aos gestores de várias unidades hospitalares. Citada pelo jornal Expresso, fonte do São João explicou que “o hospital vive numa situação limite e a direção não quer ser responsabilizada por não prestar serviços de saúde de qualidade aos seus doentes”.

FMUP preocupada

A Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) já veio demonstrar a sua preocupação com o que se passa no centro hospitalar, dizendo, em comunicado, que “identifica no grupo de diretores demissionários muitos dos melhores e mais empenhados profissionais das duas instituições que por essa razão lhe merecem o maior respeito”.

A FMUP deixa um apelo ao Ministério da Saúde, no sentido de solucionar o caso com a maior celeridade possível, uma vez que a demissão coletiva representa “riscos” à assistência dos doentes e à “qualidade do ensino médico”.

Contactada pelo JPN, a administração de António Ferreira não quis comentar a situação.