Como surgiu esta paixão?

Apesar de nunca ter respondido à pergunta ‘o que queres ser quando fores grande’ com ‘designer de joalharia’, esta paixão já vem desde pequenina. Na altura assaltava a caixa de costura da minha mãe e todo o tipo de fios, tecidos, botões e missangas que houvesse lá por casa. Agora, as minhas ferramentas evoluíram e são outras. Encarava esta minha paixão mais como hobby, nunca como um potencial caminho profissional. Tanto que, na altura, quando foi para decidir que área seguir na faculdade, fiz a escolha mais segura e segui Design de Comunicação. Até que, de repente, percebi que não era bem aquilo que eu gostava de fazer, que não estava confortável com a escolha que tinha feito e que esta seria uma escolha para a vida e era bom que fosse algo que fizesse não por obrigação, mas por gosto. Foi aí que comecei a pensar em joalharia como profissão. Com algum medo arrisquei e, hoje em dia, não me arrependo nada do caminho que segui.

Como descreve o seu trabalho? O que a distingue?

Acima de tudo, eu tento que o meu trabalho me dê gozo a desenvolver. É muito importante que gostemos do que estamos a fazer, que nos dê prazer e que não seja, de algum modo, uma obrigação. Porque, quando se faz algo contrariado, isso reflete-se no final, e quase de certeza que vamos ter um mau resultado final. Além disso, em vez de as minhas jóias serem de diamantes, são de cortiça.

Ano do Design Português

No contexto do Ano do Design Português, o JPN apresenta, neste mês, todas as semanas, uma entrevista a um jovem designer português:

Porquê este material?

Eu trabalhei com cortiça pela primeira vez num projeto académico e de imediato apaixonei-me por certas características, como a sua leveza e a textura, e percebi o potencial que ela poderia ter nesta área. Por isso, quando acabei o curso, decidi que gostava de pegar nesse trabalho como ponto de partida e explorar ainda mais a cortiça, desenvolver novas peças.

Como descreve o seu processo criativo?

Quase todo o processo criativo começa com rabiscos e o meu não é exceção. Mas depois do primeiro rabisco sinto logo necessidade de passar à ação e de testar volumes e escalas. Tenho que perceber como vai funcionar a peça no corpo, por isso, começo logo com papéis a fazer inúmeras maquetes até ficar satisfeita com o resultado, para poder depois desenvolver o desenho final num programa 2D ou 3D e passar à construção da peça em si. Gosto, acima de tudo, de fazer peças arrojadas e diferentes e de testar limites.

Sei que está, neste momento, a preparar a abertura de uma loja online. O que a motivou a escolher o online?

A loja online surge pela necessidade de abrir horizontes e de tornar as peças acessíveis a um maior número de pessoas. A página no Facebook é ótima para divulgar o trabalho e receber feedback imediato das pessoas, mas isso não chega, é necessário dar um passo além e esse passo será a loja online.

Quais são os seus planos para o futuro?

Neste momento sinto que não dá para fazer muitos planos, porque rapidamente as coisas mudam. Tenho os meus desejos e objetivos, claro, mas vou vivendo um dia de cada vez, contornando as adversidades que vão surgindo no dia-a-dia, tentando não me desviar muito do caminho que quero seguir.

Como vê a área de design em Portugal?

Há que batalhar muito pelas oportunidades e quando essas ditas oportunidades aparecem é continuar a batalhar. Não se pode confundir oportunidades com facilidades, porque facilidades, definitivamente, não existem, muito menos na área do design. Regra geral, as áreas criativas são um pouco desvalorizadas, há a ideia de que ser designer é fazer uns rabiscos, e que, para se fazer uns rabiscos, não é preciso muito esforço, qualquer um faz. Por isso, para além de fazermos o nosso trabalho, ainda temos que nos empenhar muito para que o mesmo seja valorizado. É trabalho a dobrar.

É díficil ganhar a vida a partir do design?

É uma luta constante. É complicado quando se abraça um projeto pessoal, porque a instabilidade é enorme. Nunca sabes como vai ser o dia de amanhã. E isto limita-nos a capacidade de fazer planos a médio/longo prazo. É o preço por se querer fazer aquilo de que se gosta. Mas, no final, espera-se que o risco compense. Se não acreditasse no trabalho que estou a desenvolver não o fazia.