Uma arte pura, espontânea, sem cânones e produzida por criadores livres de qualquer influência de estilos oficiais. É assim a designação de Arte Bruta, criada por Debuffet, em 1945. Segundo Cláudia Lopes, responsável do atelier de expressão plástica do Centro Hospitalar Conde Ferreira é mesmo “uma arte que sai do sistema e que é autêntica. O autêntico que sai quase do inconsciente diretamente para o papel”.

Apesar desta definição, há também quem não acredita nela. João Silva, enfermeiro chefe do Serviço de Reabilitação Psicossocial do hospital de Magalhães Lemos, é um deles: “Arte é arte, independentemente das pessoas que a fazem”.

A Arte Bruta apresenta-se também, mas não só, como instrumento terapêutico. No Porto, o hospital Magalhães Lemos e o Centro Hospitalar Conde Ferreira são dois exemplos disso mesmo: utilizam a arte como forma de reabilitação psicossocial. A reabilitação “tende a dar, de alguma forma, às pessoas com doença mental, oportunidades iguais às pessoas ditas não doentes”, diz João Silva.

Para além da reabilitação psicossocial

Arte Bruta é um conceito que engloba os trabalhos produzidos fora do sistema tradicional e profissional da arte. Não é um exclusivo de pessoas com doença mental. Arte Bruta engloba também produções realizadas por crianças, criminosos e até alguns trabalhos de caráter público e coletivo, como o graffiti.

Teatro, música, pintura, escultura, cerâmica, reciclagem de material são todos os géneros utilizados pelo Magalhães Lemos e têm-se tornado cada vez mais indispensáveis aos doentes: “Eles verbalizam isso, acabam por dizer que isto, de alguma forma, acabou por lhes mudar a vida, ou a perspetiva como viam a vida”. Muitas vezes por descobrirem neles próprios potencialidades que eles mesmos desconheciam.

No hospital Magalhães Lemos, há quarenta anos que a arte serve como instrumento terapêutico. Dos 250 doentes, 85% frequenta ateliers de duas a três vezes por semana. Cláudia Lopes acrescenta que a arte não é um processo 100% eficaz, mas ajuda a “promover a autoestima, a comunicação entre o grupo, a qualidade de vida, a diminuir os níveis de ansiedade e a melhorar a qualidade de auto-expressão. Agora, não há receitas”, esclarece a responsável do atelier de expressão plástica do Centro Hospitalar Conde Ferreira.

As oficinas são frequentadas por cerca de 30 pessoas e integram pacientes com deficiência mental e esquizofrenia. O método é adaptado a cada utente: “É fundamental haver liberdade dentro daquele espaço. Que seja, um espaço onde o utente se sinta seguro para poder exprimir um pouco de si”, conclui Cláudia Lopes.