Tristeza. É o único sentimento estampado nos rostos daqueles que percorreram um grande caminho só para assistir a seleção portuguesa no Brasil. Felizmente, desta vez, ninguém foi ao estádio para ver o pouco que Portugal decidiu mostrar aos seus adeptos.

A preparação para o segundo jogo da fase de grupos, que assinalou a metade do Campeonato do Mundo, começou uma hora antes do dito cujo. A carne na churrasqueira e a cerveja na geladeira, ritos cerimoniais realizados em todos os outros encontros, também não poderiam faltar no duelo da semana: Portugal contra os Estados Unidos. O otimismo dos portugueses era evidente e todos acreditavam piamente numa vitória verde e vermelha.

E foi logo no início que o favoritismo provou ser verdadeiro. Um golo de Nani, logo aos cinco minutos de jogo, desencadeou um processo de entropia negativa para acabar de vez com os resíduos da vergonhosa derrota frente à Alemanha. Portugal estava a reerguer-se e, para os adeptos, já ninguém era capaz de travar a equipa do melhor do mundo. Ninguém, exceto Portugal, claro.

Ainda na primeira parte, comentários como “não estão a jogar nada”, “nem parecem que estão num Mundial” e “daqui a nada sofrem um golo” ecoavam entre as quatro paredes e quebravam o clima de confiança que perdurara até então. Mesmo à frente do marcador parecia que o pesadelo de Salvador estava a voltar: uma seleção cansada, desanimada e sem nenhuma vontade de jogar futebol. Até os brasileiros diziam que, apesar de a formação das “quinas” ser tecnicamente muito superior, não demonstrava, sequer, “metade da força de vontade dos americanos”.

A par da maré estava Alexandre Rodrigues, um dos portugueses que é fã absoluto de Cristiano Ronaldo. Ele parecia ser o único a acreditar numa reviravolta do espírito da seleção na segunda parte e até numa ampliação do marcador. Tal, como bem sabemos, não veio a acontecer.

As três fases de um adepto português no Brasil

Na segunda parte, já mal era possível ouvir a televisão. Os gritos da “arquibancada” no Rio de Janeiro eram tão altos que, se calhar, Paulo Bento foi capaz de ouvir o quão “imbecil” dizem que ele é em Manaus. Obviamente, não foi só o selecionador português a vítima destes ataques. Cristiano Ronaldo, Miguel Veloso e Nani foram os principais alvos. E depois do segundo golo americano, o que era confusão transformou-se numa anarquia. Estava estampada a primeira fase psicológica de um adepto português no Brasil: a raiva.

“*****”, “*******”, “**** *** ** *****” foram as únicas estrelas portuguesas do dia (colocadas por nós no texto, para não ferir suscetibilidades). A seleção estava no caminho da eliminação e, já perto dos 90 minutos, ninguém queria ver o jogo, mas ninguém saía da frente da televisão. Era a fase da depressão.

Mas, contra todas as expectativas, Varela, aos 95 minutos, reacendeu a chama já apagada no coração dos viajantes para explodir a torcida. A alegria foi tão grande que parecia que o apuramento estava garantido. Esta mudança comportamental brusca é o reflexo da terceira e última fase, que perdura até hoje: a esperança.

E, mesmo no Brasil, os portugueses continuam à espera de um retorno milagroso, à la D. Sebastião, para derrotar o Gana, nesta quinta-feira, por uma goleada, já que esse é o resultado obrigatório. Ainda que difícil, existe um fundamento nesta esperança: depois de quase 440 anos, já não era sem tempo que um milagre acontecesse.