Há exatamente uma semana, Portugal foi eliminado do Campeonato do Mundo do Brasil. A verdade é que nesta sexta-feira começam os quartos-de-final e é difícil esquecer a campanha lusa muito aquém do esperado.

Raramente está frio no Rio de Janeiro, mesmo no inverno. Ainda eram 03h30 quando saímos para o aeroporto do Galeão e era completamente impensável andar com um casaco. É difícil não invejar um bom clima tropical quando moramos no Porto. Ainda assim, o sol continuava escondido por entre as montanhas cariocas e só veio a sair quando o avião já estava em cruzeiro pelos céus. A vista é realmente magnífica.

Conforme o dia ia nascendo e o sol subindo, Brasília, a capital brasileira, começava a ganhar vida. O serralheiro abria a serralheria, o mecânico abria a oficina, mas o que mais fez o grupo ficar feliz foi, sem sombra de dúvidas, quando o padeiro abriu a padaria. A fome era muita, já que quase todos saíram de casa sem comer e a correr, uma combinação já frequente no dia-a-dia dos turistas no Brasil.

O único que já se tinha antecipado a nós era o dono do quiosque, pois os jornais do dia já estavam prontos para venda. Dentre outros, o Correio Braziliense saltou logo ao olhar. O jornal com forte presença no Distrito Federal tinha a capa diretamente relacionada com o grande confronto daquela tarde, o Portugal – Gana, mas de uma maneira pouco convencional: de um lado tínhamos o melhor do mundo, Cristiano Ronaldo, e, do outro, uma espécie de bruxo ganês que profetizara o triunfo africano. O trabalho do bruxo teria de ser muito bom, pois a situação do Gana ainda era pior do que a portuguesa (ver caixa).

O futebol em segundo plano

Estatisticamente falando, o Gana tinha mais probabilidades de passar para os oitavos-de-final do que Portugal. Também precisava de uma vitória alemã, é certo, mas não de uma goleada absurda sobre a equipa das quinas. Porém, uma ameaça de greve dos jogadores por falta de pagamento fez com que três milhões de dólares americanos fossem transportados para o Brasil de forma a que os africanos jogassem. O resultado foi uma evidente instabilidade entre os próprios jogadores e comissão técnica, que resultou numa ausência inexplicável das estrelas Muntari e Boateng. Resumindo e concluindo, em pleno Mundial, o futebol ficou em segundo plano.

E é por isso que, apesar das probabilidades bastante remotas, não foi com descontentamento que portugueses e simpatizantes da seleção se dirigiram ao novíssimo estádio Mané Garrincha – nome atribuído em memória ao ícone do futebol brasileiro -, em Brasília. O clima era de festa. O estádio estava cheio. Os portugueses gritavam e cantavam os nomes dos jogadores antes mesmo do jogo começar. Portugal sempre foi perito em salvar-se à rasca e todos tinham a certeza de que o iria fazer novamente.

Mas não foi esta a história que os 11 em campo decidiram contar para os seus adeptos. Apesar das oportunidades claras de golo e da melhoria colossal em comparação com os últimos dois jogos, não era o Portugal que jogou contra a Suécia que estava em campo. Cristiano Ronaldo pode ter sido eleito como o homem do jogo, mas o seu frenesim de golos e capacidade de levantar a seleção permaneceu, naquele dia, na Suécia.

Como tudo o que acaba, a saída do campo foi triste. Nenhum dos três portugueses iniciou um debate filosófico intenso sobre os acontecimentos do jogo, como nos confrontos anteriores. Estava tudo acabado e não era possível voltar atrás.

No adeus a Brasília e ao Brasil, luzes verde e amarelas iluminavam os prédios, bandeiras grandes enfeitavam as casas e outras em versão miniatura os carros que passavam por nós. Como seria bom celebrar a nossa única vitória.

Os remanescentes

Desde o trágico dia para os portugueses, muita coisa mudou. Tivemos os primeiros oitavos-de-final da história em que todos os que mais pontuaram nos respetivos grupos passaram à fase seguinte, apesar das imensas dificuldades sofridas.

Nesta sexta-feira teremos o primeiro duelo destes oito remanescentes no Campeonato do Mundo. O Brasil de Neymar vai receber a Colômbia de James Rodríguez, o artilheiro de toda a competição, para tentar apurar-se para a fase seguinte. O “rumo ao hexa” está difícil, pois a taça ainda é ambicionada por muita gente.

E, para os portugueses, o Mundial ainda não acabou. Apesar da eliminação, ainda há muito futebol a ser exibido em solo brasileiro. Vale a pena continuar atento, pois o próximo campeão ainda é uma incógnita.