Em 1950, a Volkswagen produzia os primeiros modelos da “Kombinationsfahrzeug” – a carrinha que os portugueses intitularam, carinhosamente, de “pão-de-forma”. A alusão ao pequeno-almoço é, ao que consta, apenas pelo aspeto mas poderia bem ser pelo conceito “bed&breakfast”, já que a carrinha é sempre associada a viagens e estadias improváveis.

Duarte, Agostinho, José, Ricardo, João e Miguel têm em comum a paixão pela carrinha do movimento hippie. Dona de todas as atenções, na luta com os comuns reis da estrada, ganha sempre. “Se tivermos uma carrinha destas e um Ferrari a passar ao mesmo tempo, é fácil perceber para qual as pessoas olham mais”, diz Agostinho Neves.

As histórias são diferentes. Duarte Meneses tem a carrinha para coleção, Ricardo Dias comprou a pensar no lazer e no trabalho e João Pedro recebeu de presente dos pais. Para Agostinho Neves, já foi sinónimo de grandes viagens pela Europa, Miguel Ferraz tem mais do que uma e a de José Rui Veiga é uma mulher. “É extremamente feminina. Como já a tenho há treze ou catorze anos, ela até já tem nome. Chama-se Josefa”, conta o sound designer.

VolksCamping

Este fim de semana, 5 e 6 de julho, há encontro marcado para todos os amantes da Volkswagen. A associação “Momentos BW” pretende juntar 50 carrinhas no Parque de Campismo da Barragem da Queimadela, em Fafe, num evento chamado “VolksCamping”.

Apesar de ter surgido no contexto do pós-guerra, o espírito positivo é sublinhado por todos. “As carrinhas, principalmente as da primeira geração, arrancam sorrisos rasgados em quem as vê passar”, garante Agostinho Neves. Mais do que um meio de transporte, é uma casa com motor. “Eu antes costumava ir com ela dormir para a praia”, conta José Veiga.

Para Agostinho, José e João, a pão-de-forma combina bem com filhos, amigos e sobrinhos. A bordo há sempre festa e seja para “surf trips”, ou para ir para a Queima das Fitas, há sempre lugar para mais um. “Eu passei um bocadinho a pasta aos meus filhos. Se eu quiser andar com ela agora, é complicado porque a agenda está sempre preenchida por eles e pelos amigos”, acrescenta Agostinho.

“Se alguém me souber dizer o que há de positivo na carrinha, eu agradeço”

Para José Veiga, a carrinha de sonhos de tantos é, a grande parte do tempo, um pesadelo. O alto consumo e a necessidade de constante reparação são os principais pontos negativos apontados pelos seis proprietários. “É como uma velhota com um vestido novo. Um dia dói-lhe os joelhos, outro as suspensões, outro o carburador, tem muitas dores”, garante o sound designer.

“Dizem que são de guerra mas não é bem assim”, acrescenta Miguel Ferraz, para o qual as carrinhas não são assim tão fiáveis. O designer gosta de andar com elas na estrada, mas tem sempre muito cuidado. Para Ricardo Dias, na estrada, o problema maior é a velocidade: “É um carro lento para o que se está habituado nos dias de hoje. Tem que se andar com tempo”. João Pedro concorda apontando como pontos negativos o alto consumo de combustível, o baixo rendimento do motor e o facto de chamar muito à atenção.

José Veiga é o mais convicto nos aspetos negativos e garante logo de início que tem uma lista infindável de defeitos a apontar: “Se alguém me souber dizer o que há de positivo na carrinha, eu agradeço”. Apesar disso, não se consegue imaginar sem ela. Para o sound designer, a “máquina de gastar dinheiro” tem muita história e vida própria e é por isso que, quando arranjou comprador, passou toda a noite sem dormir. “Quando acordei liguei à senhora e disse: ‘Vai-me desculpar mas eu não consigo desfazer-me dela’. E ela, muito atenciosa, disse que entendia” contou José Veiga.

Com mais ou menos defeitos apontados, a famosa “pão-de-forma” continua a marcar a a vida de cada um dos proprietários – sortudos, aos olhos atentos de quem vê passar a “liberdade sobre rodas”.

Mais de 60 anos de história

O Volkswagen Bus, também conhecido como o Type 2 (T2) – é o segundo modelo produzido pela Volkswagen a seguir ao período pós-guerra, tendo tido cinco variações – T1 ao T5. A ideia original para a carrinha veio da mente do importador da VW holandesa, Ben Pon, autor dos primeiros esboços da van, em 1947. Três anos depois, já sob a direção do novo director da Volkswagen, Heinz Nordhoff, o primeiro modelo de produção em série saiu da fábrica em Wolfsburg.

O fator de distinção no mercado? A simpatia. A “Kombi” era o único veículo comercial capaz de conservar o aspeto aconchegante, “feliz” e simpático. Por todo o mundo, o modelo ganhou fama e novos nomes. Na Alemanha, deram-lhe o nome de “Bulli”, na Dinamarca é “rugbrød”, na América, simplesmente, “Transporter”, nos Países Baixos era conhecido por “Spijltje” e em Inglaterra por “Clipper”.

Com uma das carreiras mais longas da história automobilística, o Volkwagen T2 deixou de ser comercializado, o ano passado, devido às novas regras de segurança – todos os automóveis de produção em série precisam equipados com travões ABS e airbags dianteiros para o condutor e para o passageiro. Após a paragem na produção, disparou a procura pela carrinha mais feliz da história.