As bandeiras verde e amarelas já começaram a sair das casas, dos carros e do coração dos brasileiros. Não é por acaso. A vergonha sofrida frente à Alemanha em Minas Gerais fez o “Maracanazo” – derrota do Brasil contra o Uruguai na final do Mundial no estádio do Maracanã (1950) – parecer um conto de fadas. O “Mineirazo”, como já é conhecido em todo o mundo, acabou com a família Scolari, esmagou o sonho brasileiro e impôs um novo pesadelo aos anfitriões: uma possível vitória da Argentina em pleno Brasil.

O início do fim

Era impossível o Brasil perder o Mundial. A esperança ecoava nas cinco zonas do país, as pessoas vestiam alegremente a camisola amarela da seleção e, mesmo sem Neymar e Thiago Silva, Luiz Felipe Scolari iria conseguir montar uma equipa forte e competitiva para enfrentar a poderosa máquina alemã e repetir o feito de 2002. Este era o conto de fadas que os brasileiros acreditavam, até serem apresentados à triste e dura realidade.

Como muitas outras pessoas, Tony, Leonardo, Marcos, Bruno e Aluisio demoraram sete horas de carro para chegarem a Belo Horizonte, a capital do Estado de Minas Gerais. Os bilhetes de avião já tinham esgotado há muito tempo e todos os “afortunados” que conseguiram ingressos mais tarde tiveram de arranjar meios de transporte alternativos. Mas o esforço valia a pena. Era naquele dia que o Brasil iria colocar a sua primeira mão na taça do “hexa” e nada podia estragar o momento.

Feito histórico

Foi a maior goleada já sofrida pela seleção brasileira. A pior tinha sido 7-2 contra a Itália, em 1919.

A cidade também vibrava com o positivismo da vitória. Camisolas, cachecóis, bandeiras, cartazes e até moldes do rosto do Neymar, lesionado na partida contra a Colômbia, eram vistos em todos os cantos e recantos da capital mineira. Dentro do estádio, a animação era ainda maior. Os gritos de “o campeão voltou” e “eu acredito” eram constantes, o entusiasmo cativante e o triunfo quase certo. E seria certo, se quem determinasse o resultado do jogo fossem os adeptos.

Mas o conto de fadas brasileiro não teve um final feliz. No primeiro golo da Alemanha, os brasileiros começaram a cantar ainda mais alto para motivar a equipa. No segundo, o êxtase e o otimismo começaram ser abalados. Depois veio o terceiro, o quarto e o quinto, e, em meia hora de jogo, o sonho já se tinha tornado um pesadelo. Alguns adeptos já saíam do estádio enquanto outros vibravam contra os jogadores da própria equipa. Um ou outro ainda tentava erguer a voz para motivar a equipa na vã esperança de uma virada extraordinária, mas eram abafados pela triste e dura realidade: era o fim da linha para o Brasil.

No fim dos 90 minutos, muitos ainda não acreditavam no que viam no placar eletrónico. Foi uma vingança em prato frio da Alemanha, derrotada na final, em 2002, contra a formação “canarinha”, com direito a sobremesa. É até difícil dizer que o Brasil fez um golo de honra no final. Não há honra nenhuma em sofrer a maior goleada como anfitrião na história dos Campeonatos do Mundo, muito menos quando estamos a falar dos únicos pentacampeões mundiais.

Dá para piorar?

Neste sábado, o Brasil vai enfrentar a Holanda na disputa pelo terceiro lugar (21h). De acordo com Leonardo, um dos adeptos presentes no Mineirão – ou “Mineirazo” – “pouco importa um terceiro lugar para o Brasil”, mas “não levar outro vexame” já é de grande importância.

E foi isso que, em apenas 90 minutos, a seleção conseguiu fazer com os brasileiros: dizimar um sonho que já perdura desde 1950 e redesenhar o conceito de “melhores do mundo”. Pode até haver mais um jogo neste sábado, mas, para os brasileiros, mais valia o Mundial já ter acabado.