Em três dias de Alive, passaram pelo recinto do festival mais de 150 mil pessoas – 13 mil estrangeiros. A prova de que o Alive é não só um dos grandes – talvez o maior – em Portugal mas também que é, cada vez mais, alvo dos holofotes e da curiosidade internacionais. Deixamos aqui os highlights do palco principal mas alertamos: o Palco Heineken e o Clubbing trazem-nos sempre as melhores surpresas.

Dia 1

O primeiro dia do festival começou com 55 mil pessoas e um espaço enorme que, de repente, pareceu demasiado pequeno. Não houve problemas de maior, é um facto, mas o recinto ficou menos transitável. A tarde começou com a doçura do folk de Ben Howard, perfeito em final de tarde, mesmo com os problemas de som que assombraram a atuação do inglês.

Seguiu-se a feliz atuação de The Lumineers, com uma energia incapaz de deixar qualquer um indiferente. Imagine Dragons era talvez a segunda banda com mais fãs no recinto e a concentração em frente ao palco principal durante a atuação dos americanos, foi a prova disso. Corpos bronzeados e de calções de ganga vibraram com “On Top of the World” e alguns ainda trautearam “Demons” ou “Radioactive”.

Interpol permitiram uma pausa para relaxar antes do grande concerto da noite, já que nem os novos temas que vão integrar o quinto álbum, El Pintor, convenceram as hostes. Ainda assim, Paul Banks garantiu: “É uma honra estar aqui”.

Por fim, “Do I Wanna Know” foi a música escolhida para abrir o concerto de Arctic Monkeys, que já fez correr tanta tinta. Foi, sem dúvida, um dos melhores momentos deste Alive 2014 mas, ainda assim, aquém de alguns dos espetáculos que os britânicos já deram em terras lusas. Talvez, em parte, pela assistência taciturna.

Dia 2

O segundo dia começou com o retorno dos portugueses de The Vicious Five aos palcos, para uma despedida à altura da banda, que decidiu terminar há cinco anos, sem mágoas: “Nós fomos os Vicious Five. Bem-vindos ao nosso funeral”, deixou claro Quim Albergaria (a segunda parte do ‘evento’ estende-se até ao Milhões de Festa). Uma viagem entre os três álbuns da banda que fez valer a pena o regresso.

Já os norte-americanos The Last Internationale trouxeram o espírito riot ao palco principal do festival. Cantaram um excerto de “Grândola, Vila Morena”, incitaram um protesto contra “contra esse Passos Coelho” e alternaram insultos entre o português e o inglês. Para os mais confusos, Edgey Pires explicou: em palco, estavam dois descendentes de portugueses – ele próprio e o baixista.

Seguiu-se o concerto morno de MGMT, que pareceu fechar-se, intimamente, sobre as primeiras filas de assistência. “Kids” foi a excepção, está claro, mas MGMT também nunca tentaram chegar às massas. The Black Keys eram apenas dois mas encheram o palco e não foram, em situação nenhuma, “lonely boys”. Conquistaram a atenção do público e prenderam-na até ao fim (ou até ao hit com que brincámos anteriormente), num concerto que não se pode descrever como espetacular mas, no mínimo, surpreendente.

Mas os verdadeiros reis da festa foram Buraka Som Sistema, que conhecem bem o público de casa, e fizeram questão de o mostrar. O kuduro invadiu o Passeio Marítimo de Algés, numa alternância entre ritmos do novo álbum e canções que já fazem história. Blaya, Conductor e Kalaf foram os mestres de cerimónia mas a MC consegue sempre espalhar a sua magia, destrocando nos movimentos de anca.

Dia 3

A abertura do terceiro e último dia de Nos Alive – o mais vazio, também – fez-se duplamente em português. You Can’t Win Charlie Brown proporcionou uma entrada introspetiva, mais intimista, bem ao jeito da banda lisboeta. The Black Mamba, por sua vez, injetaram alguma energia no público (escasso e talvez até ‘desapropriado’) que assistia ao concerto do palco principal. Uma missão ingrata – a que se juntaram alguns problemas de som – que, ainda assim, não abalou a entrega do trio (ali, reforçado). Coisas da experiência.

Dan Smith entrou e o recinto vibrou. O vocalista de Bastille é um ícone para a adolescentes e isso não passou despercebido. Um concerto meloso que abusou da percussão e dos sintetizadores, bem ao jeito da banda britânica, e que ainda contou com uma versão de “Scrubs”, das TLC, cruzada com “Angels”, dos XX. Um dos pontos altos do concerto, que percorreu os originais de Bad Blood, o único álbum de Bastille.

Por fim, Foster The People foram os verdadeiro cabeças-de-cartaz desta noite – e nem por isso extraordinários. É certo que Mark Foster liderou um concerto competente – com “Pumped Up Kicks” a assumir-se como o auge da atuação – mas não foi muito além disso. Deixa-nos na memória um espetáculo de pop rock mais alternativo e dançável daquele a que estamos habituados, por esta altura, e uma dualidade de sentimentos: se por um lado reuniu das maiores multidões do dia, por outro foram muitos os que aproveitaram para jantar.

E chegou a vez de The Libertines. A última confirmação do festival, que mais pareceu a estocada final para cativar público inglês, já que a banda que ainda faz furor em terras de Sua Majestade nunca foi especialmente apreciada em Portugal. E isso notou-se: depois da debandada pós-Foster the People mantiveram-se os curiosos e os estrangeiros – ou pelo menos, até começar Chet Faker no segundo palco.

É que Pete Doherty e Carl Barat sabem o que fazem, têm uma química inegável e músicas com potencial, mas surgiram demasiado bem comportados e nada disso pareceu ser suficiente para inflamar as hostes.

Garantido está o retorno do NOS Alive no próximo ano, a 9, 10 e 11 de julho. Ainda sem cartaz e sem previsão de quando os bilhetes possam ser postos à venda, de uma coisa temos a certeza: tendo em conta os números de 2014, público não há-de faltar.