Nove anos depois de “Documento Boxe” e sem grandes surpresas, Miguel Clara Vasconcelos voltou a vencer a Competição Nacional do Curtas Vila do Conde. Escrito e realizado pelo autor, “O Triângulo Dourado” é um filme-poema que viaja pelo mundo e cujas opções técnicas resultam numa estética retro. Sem enredo e sem diálogos, somos convidados a partilhar com a personagem viagens internas e externas, sempre sem sair do sítio.

Palmarés

Competição Internacional Grande Prémio: Cambodia 2099 de Davy Chou (França/Cambodja) Melhor Ficção: Person to Person de Dustin Guy Defa (EUA) Melhor Documentário: El Palacio de Nicolás Pereda (México/Canadá) Melhor Animação: A Blue Room de Tomasz Siwinski (Polónia/França) Melhor Curta Europeia: Panique au Village: la Bûche de Noël de Vincent Patar e Stéphane Aubier (Bélgica/França) Prémio do Público: La Bûche de Noël
Competição Nacional Melhor Filme: O Triângulo Dourado de Miguel Clara Vasconcelos Prémio do Público: Fuligem de David Doutel e Vasco Sá Melhor Realização: David Doutel e Vasco Sá
Competição Experimental: Hacked Circuit de Deborah Stratman (EUA)
Competição Videos Musicais: Far from Everything (White Haus) de Vasco Mendes
Prémio Curtinhas (curtas-metragens para crianças): Capitão Peixede John Banana
Prémio Take One (competição de filmes de escola): Manifesto dos Danados de João Niza Ribeiro

A nível internacional, o júri composto pela programadora Vanja Kaludjercic, pelos realizadores João Rui Guerra da Mata e Paul Negoescu e pelos críticos Fabien Gaffez e José Manuel López, atribuiu o Grande Prémio Jameson à curta “Cambodja 2099” de Davy Chou, uma história que fala sobre os sonhos e fantasia de dois jovens em Phnom Phen.

Não arrecadou nenhum prémio mas Teresa Villaverde não desiludiu. “Sara e a sua Mãe” integra a longa-metragem, “Ponts de Sarajevo”, composta por vários realizadores e, apesar da curta-metragem não ser o género por excelência da realizadora, Villaverde conseguiu transparecer a sua identidade de forma soberana. Tendo como pretexto a mudança de casa de uma mãe e das duas filhas, a cineasta mostra as sequelas estruturais de uma guerra recente – protestos, uma cidade cercada e um pai desaparecido.

Longe desta audácia, Simão Cayatte levou “Miami” até Vila do Conde, numa curta-metragem marcada pela banalidade, onde tudo é demasiado óbvio e fácil. Uma adolescente cujo sonho é tornar-se famosa, não olhando a meios para atingir os fins e, por isso, mesmo envenena a colega. Quase como nas telenovelas, há um certo moralismo na realização que leva o espectador a julgar a personagem, ainda que esta persista do lado errado da barricada.

Jibóia e Filho da Mãe na terra dos caçadores de cabeças

Na penúltima sessão da secção Stereo, quinta-feira, Óscar Silva e Rui Carvalho juntaram guitarras para musicar “In The Land of The Head Hunters”, de Edward S. Curtis, realizado na década de 10. Visivelmente danificada, a película foi recuperada pela Milestone, em 2008, e reconstituída, em certas partes, com fotogramas e intertítulos.

Num trabalho tanto etnográfico quanto cinematográfico Curtis regista e conta estórias de um tribo índia canadiana no princípio do século XX. Através de harmonias em loop, batimentos certeiros e efeitos psicadélicos os guitarristas reavivaram as sensações de hipnose e transe, tão típicas dos rituais tribais.

A pensar no futuro

A 23.ª edição do Curtas Vila do Conde terminou este domingo com a exibição dos filmes premiados, mas já há novidades para o próximo ano. O festival volta a apostar na produção fílmica através do programa Campus/Estaleiro, dois anos após a comemoração do 20.º aniversário do Curtas, de onde saíram “Obrigação/É o Amor” de João Canijo, “A Mãe e o Mar” de Gonçalo Tocha, ou “Mahjong” de João Pedro Rodrigues e João Rui Guerra da Mata.

Para esta edição foram convidados os realizadores Sandro Aguilar, Manuel Mozos e Lois Patiño, anunciados em conferência de imprensa na tarde de sábado durante a “recta final” da edição 2014 do festival. Tal como na edição de 2012, a ideia é que sejam produzidos documentos das realidades sociais vividas na região norte. Os filmes deverão ser concluídos a tempo de estrearem na edição 2015 do Curtas Vila do Conde.