O MedinUP – Centro de Investigação Farmacológica e de Inovação Medicamentosa do Porto – foi criado em 2013 “especificamente para esta avaliação da FCT [Fundação Para a Ciência e Tecnologia]”, conta-nos Patrício Soares da Silva, coordenador do grupo e professor na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto. Mas aquilo que pensavam que seria uma validação do sucesso e do trabalho do “novo” grupo, acabou por se tornar uma pedra no caminho futuro destes investigadores.

“Poor”, ou “Insuficiente” em português, foi a classificação atribuída à unidade, resultante “da colaboração de quatro grupos constituídos por farmacologistas e outras pessoas da área do medicamento” de quatro instituições da Universidade do Porto – Faculdades de Medicina (FMUP), Medicina Dentária (FMDUP) e Farmácia (FFUP) e o Instituto Abel Salazar (ICBAS).

1. O grupo

“Uma coisa que nos interessa muito é a ligação entre a investigação fundamental, de laboratório, e a sua aplicação numa vertente mais clínica: em ensaios clínicos, medicamentos, estudos relacionados com determinadas patologias… foi esse o nosso grande objetivo com esta iniciativa”, conta Patrício Soares da Silva, coordenador do MedinUP. Na apresentação formal do grupo, criado o ano passado, o objetivo é evidente: “Traduzir as descobertas feitas no laboratório em terapia e orientar a próxima geração de investigadores dedicados à descoberta de medicamentos”.

“Poor”, segundo os critérios da FCT (PDF), é o pior grau de avaliação e caracteriza uma “unidade que não contribui para a área de investigação respetiva e com outras fraquezas”. Uma avaliação “incompreensível”, afirma Patrício Soares da Silva, sustentando-se ainda no documento com a apreciação geral do painel de avaliação: “O MedinUP é certamente ativo, com uma sólida (se não impressionante) produção”, pode ler-se.

“Não há ninguém na área do medicamento que esteja realmente fora deste núcleo”

As áreas de investigação em causa são consideradas “relevantes” e é elogiada ainda a capacidade de “atração e treino de estudantes de doutoramento”. É que esta não é, sequer, uma unidade inexperiente [ver caixa 1.], apesar da tenra idade. O MedinUP foi apenas a congregação de vários grupos das diferentes instituições que já existiam há vários anos e colaboravam entre si, devido a interesses e áreas de investigação comuns.

“Ainda assim, a aplicação geral é decepcionante”, lê-se no mesmo documento, a que o JPN também teve acesso. “É muito geral, redundante e pouco informativo para planos futuros (experiências específicas ou alvos estão ausentes ou pouco desenvolvidos)”, para além de que “disponibiliza muita informação sobre desejos de melhorar o conhecimento em diversas áreas, mas é pouco claro a forma como essas melhorias vão ser alcançadas”. Algumas “fraquezas” – a par com outras [vídeo] – referidas pelos “relatores e revisores” que sustentam, “em grande parte, a decisão final do painel”, lê-se ainda.

Patrício, no entanto, acredita que “a FCT terá de considerar aquilo que são as áreas estratégicas que o país tem, que a região tem, que a universidade tem e, por outro lado, a competência científica e técnica das pessoas”. “Não há ninguém na área do medicamento que, neste momento, esteja realmente fora deste núcleo da região do Porto. Por isso, parece-me difícil que o grupo não seja considerado como um elemento a ter em conta no que diz respeito à investigação nesta área”, afirma.

Números

O grupo é constituído por uma equipa multidisciplinar de cientistas com “experiência académica, de investigação clínica e na indústria farmacêutica” que inclui 33 membros integrados doutorados, 36 estudantes de doutoramento e oito técnicos superiores.


Nos últimos cinco anos – período em avaliação pela FCT – o MedinUP foi responsável pela publicação de cerca de 250 artigos por extenso e publicações em sistema de peer-review. Este ano, até junho, já contavam mais de 50. Ainda nos últimos 10 anos (até 2012), foram supervisionadas pelo MedinUP 37 teses de doutoramento.

“Estamos desconfortáveis em relação à avaliação, não [com] o futuro do grupo”

O que preocupa Patrício e os investigadores do grupo não é a questão da perda de financiamento, que vão conseguindo contornar com “outras alternativas” – para não estarem “dependentes de nenhuma” em específico – mas a classificação em si [vídeo]. “Estamos desconfortáveis em relação à avaliação, não em relação ao que será o futuro do grupo” – já que este estará, em princípio, assegurado [vídeo]. “O que não é muito admissível para nós, sermos classificados numa posição menos interessante só porque o financiamento para todos é escasso”, explica.

E para além da reputação do grupo, está em causa o financiamento de projetos “dos mais novos, os estudantes de doutoramento”. “A instituição onde estão acolhidos também conta [para a atribuição de bolsas]. Uma má classificação claro que os coloca numa posição que não é favorável e que pode levar a que estas pessoas optem por fazer as suas pós-graduações e os seus terceiros ciclos não associados a esta área”. Uma decisão que “obviamente conduz a um empobrecimento técnico desta vertente não só nesta região e no contexto da Universidade do Porto como também em todo o país”, sublinha Patrício.

“Não vamos desistir de um projeto que, no fundo, acreditámos toda a vida”

Seja como for, desistir não faz parte dos planos de futuro [vídeo]. “Não vamos desistir de um projeto que, no fundo, acreditámos toda a vida, não é? As pessoas não chegaram a esta fase das suas vidas, alguns com 20 anos ou mais de investigação nesta vertente, para agora achar que não vale a pena continuar”, garante.

“Sempre transmiti que a nossa posição e o nosso interesse eram de manter a atividade do centro, e que faríamos tudo para isso, porque acreditamos que é uma área com interesse em termos científicos e é uma necessidade para o país”. “Enquanto não tivermos a resposta à contestação que submetemos [vídeo], o processo, para nós, não está terminado”, conclui.