Olhavam para o panorama nacional de designers, ilustradores e graffiters e eles estavam sempre lá – os artistas portuenses, cheios de talento e ideias mas sem um “palco” local para se mostrarem. Vai daí, a Circus, uma organização cultural que anda há dois anos a tentar fazer mexer a cidade, pôs mãos à obra: de 13 a 21 de setembro, a cidade vai receber um festival de ilustração e arte urbana baptizado de Push Porto.

A cultura à volta da arte urbana existente em cidades como Lisboa, Berlim e Barcelona, muito conseguida à força de festivais, tornou evidente “as vantagens para o futuro” que esses eventos foram tendo. “Davam mais visibilidade aos artistas locais, faziam com que os cidadãos prestassem mais atenção à cultura e à arte que os rodeia e, ao mesmo tempo, percebessem o esforço e o trabalho que implica fazer um grande mural”, disse ao P3 André Carvalho, da Circus.

O Push Porto quer “limpar a cara da cidade” e ter, simultaneamente, um papel educativo, capaz de mostrar às pessoas que arte urbana não são “gajos de gorro que à noite saem à rua para pintar”. “Ainda existe muito esse preconceito, principalmente no Porto, que o pessoal do graffiti são gajos de capuz que saem à noite para estragar”, lamenta André Carvalho, que se congratula com o facto de a “guerra ao graffiti” protagonizada pelo ex-presidente da autarquia, Rui Rio, estar agora terminada.

Apoios, precisam-se

Para ajudar na organização do festival, a Circus está a promover até ao dia 3 de setembro uma campanha de “crowdfunding” que tem como objetivo angariar 10 mil euros. Para já, juntaram pouco mais de 400 euros, mas conseguiram uma série de ajudas não financeiras importantes. A primeira chegou da própria autarquia (que facilitou todas as licenças camarárias e de ocupação da via pública necessárias para o evento), mas o Push Porto já garantiu também viagens e alojamento para os participantes, andaimes, publicidade e inscrição de vários voluntários que querem fazer parte do evento e “dar sem receber nada em casa”.

Durante uma semana, o Porto vai ganhar nove murais (espalhados por vários locais, como a Rua da Alegria, a Rua Miguel Bombarda, a Travessa do Carregal, entre outros), ter uma série de conferências e palestras (nos dias 19, 20 e 21 no edifício PINC, na Praça Coronel Pacheco), disponibilizar workshops relacionados com design, ilustração e graffiti, exposições em vários locais da cidade e exibir documentários no Cinema Passos Manuel.

Já confirmadas estão as presenças do Colectivo RUA, de Mr. Dheo, de Mr. Esgar e do projeto MAISMENOS, que vai dar uma palestra. De Berlim chegará o colectivo The Weird, de Barcelona viaja Aleix Gordo, para apresentar o documentário Barcelona Rise and Fall, de Londres o artista Malarky e de Budapeste vem Breakone, que já teve trabalho ilegal nas paredes do Porto. Mas isto é apenas uma pequena parte daquilo que os organizadores revelam para já.

André Carvalho acredita que “a médio prazo” o festival vai incentivar as pessoas a “fazer mais e melhor”: “Ao criarmos peças grandes e bem elaboradas vamos fomentar que o pessoal que esteja agora a iniciar-se no graffiti e na ilustração queira chegar àquele nível”.